sábado, 23 de outubro de 2010

Verdade pronta. Por Thiago Almeida, em uma outra reflexão, talvez.

Enormes são os fatos que vivenciamos em momentos digamos vulgares de nossa vida, não vulgar do termo pejorativo, mas sim com referência ao corriqueiro ao habitual, por exemplo: Ser surpreendido pela chuva no mês de dezembro; é uma coisa comum, uma coisa normal; tomar um ônibus lotado é comum, não para todos, mas o é no mais.
Dentro do corriqueiro e comum de sua vida, o personagem de hoje, que me é tão próximo e ao mesmo tempo tão distante, vivenciou algo que quebrou seu ideal de dia comum, um furo, uma realidade simples e latente.
Dentro de uma situação maçante, sem nenhuma novidade, encontrou um ex-amor. Amor? Desculpem, acho que ele nunca amou este rapaz, todo esse seu sentimento foi derramado sobre um ralo, mas não por este, por outro. Este apenas jogou no ralo o seu respeito, talvez um simples carinho: notem que pra mim ás vezes é difícil falar deste personagem, ele é tão complexo que nem mesmo eu, que tão próximo estou não consigo decifrá-lo, ou entende-lo.

Voltando ao fato fatídico: De cara ele não o reconheceu: uma barba crescida faz toda a diferença. Mas o sorriso, e os pequenos lábios tentando pronunciar o seu nome – ah! Isso foi como tapa: ACORDE INÚTIL, É ELE, O QUE DISSE A VERDADE SOBRE VOCÊ, O QUE LHE MOSTROU QUE TODOS VIAM O QUE VOCÊ ACHAVA ESCONDER.

E então, o momento foi simplesmente comparável a seguinte situação: foi como dar uma mordida em um alimento aparentemente saboroso, mas com gosto de estragado - logo os seus enormes olhos reviraram, os músculos da face bruscamente arredondada contrairam-se – e como um foguete desses de artifício - virou o rosto, como se estivesse cuspindo aquela comida estragada, cuspindo a presença, vomitando aquele perfume, que cheirava mal. Foi como uma mudança drástica de um desses dias ensolarados para um céu de nuvens negras e carregadas.

Foi um trovão: o rapaz sentiu todo o desprezo do rosto virado do personagem; coitado! - Desceu do ônibus sem graça, e tentando fugir da tempestade que caia na cidade. Só isso que posso dizer por ele.

Dentro do ônibus, no ultimo assento, do ultimo lugar no ônibus, que já não era mais acolhedor como à realidade de sempre o fazia de fato ser, o meu amigo personagem estava em polvorosa agitação, passavam-lhe mil coisas sobre a sua cabeça meramente chata: Suas orelhas pareciam estar emergidas em brasa pura, seu coração – esse daí tava disparado, parecia um tambor de escola de samba. - o reflexo imediato de acender um cigarro, que logo fora auto-advertido: Dentro dos ônibus do transporte público, não se pode fumar! – só pensa nisso, ah, se aquela cigarreira brega de courine bege falasse.

Uma mistura de orgulho, raiva, alegria, curiosidade, lhe tomou conta e ele só sabia pensar neste ocorrido, em seus vários ângulos, em sua repercussão, em sua escrita talvez tardia.

Desceu do ônibus, em sua parada, tomou umas gotinhas de chuva, devorou um pão de queijo de uma das vendinhas do lugar em que estava,
tomou um gole de café e partiu em busca da sua realidade – sempre abstrata - mas não conseguia esquecer o fato: Talvez esquecerá mais tarde, nunca se sabe.
O que eu sei que o que vim contar aqui, é apenas um desabafo, um buxixo sem eira nem beira, não interessa de verdade a ninguém, faz parte do cotidiano deste meu amigo personagem que todo dia, brinca de viver e de verdade vive.

Até mais, até outro furo desses, ô....