sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vazio, por Thiago Almeida.

Como eu gostaria que as coisas fossem diferentes, mas também iguais. Eu gostaria de poder ser o que posso ser e sou hoje, e ser o que não sou e não me deixo poder ser e não sou, sendo. Como eu queria ter coragem para olhar nos seus olhos e dizer uma besteira que parecesse incríveis para nós dois, como eu gostaria de poder ouvir sua voz no telefone igual eu ouvi hoje - no meu sonho. Como eu gostaria de poder sair dirigindo pela cidade e te encontrar em uma esquina não movimentada e te arrancar de lá e levar comigo para um paraíso qualquer que não conheçamos.

Como eu gostaria de deixar de sonhar e só viver num sonho. Minha apatia perante tudo tem me incomodado tanto - virar a cara para a vida, tem me mostrando coisas que eu nunca quis ver, e agora eu vejo. Não agüento mais entrar no mesmo quarto que você e fingir que você não está e também fingir para todos que lá eu não existo, enquanto eu ainda respiro e sinto, sinto tanto, mas não sei mais sentir. Debochada essa vida, onde sou acusado de tanto sem ter ao menos culpa.
Hoje eu queria dizer apenas que eu estou triste, mas eu nem precisava de tantas palavras para falar sobre isso - mas também estou me sentindo uma matraca: como uma criança que aprende a falar e quer descobrir esse novo mundo. Talvez seja isso que eu precise construir: um novo mundo - e livrar-me de fantasmas e construções antigas que habitam meu coração. Já sei que Deus não é mais a solução, por mais que eu grite espantado seu nome, ninguém ouvirá, nem mesmo.


Thiago Almeida F.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Novembro, por Thiago Almeida.

Novembro está indo embora e tudo que consegui dizer a vocês foram dias chuvosos, vazios manuscritos e sem mais. Não consegui escrever em uma frase se quer algo de concreto – e nem de abstrato. Esse mês de novembro em meio a tanta chuva e sol, simplesmente fui neblina. Aparecia às vezes, discreta, tímida, pegava uma caneta e um papel, escrevia e bem logo eu sumia. Eu bem que queria ter sido raio, chuva ou até mesmo um pouco de sol. Mas eu ando tão muda que agora, aqui, escrevendo não consigo ouvir nada de novo que ainda possa ser dito. Tenho medo, mas não tenho audácia. Vou aproveitar essas linhas e dizer, que faz muito, que não te vejo, e isso me deixa mais neblina. E este mês de novembro que bem logo acaba, bem logo me acaba, e que bem logo eu poderia ser outra: talvez eu seja um raio, ou apenas queira ser o som: trovão. Mas será que posso aproveitar e pedir que Deus que mais nada em minha vida, caia. Amar, eu já não queria mais falar desse verbo sem que eu não pudesse usar. Raio, sol, trovão e neblina, talvez, bem talvez eu apenas queira ser bem mais duradoura que estações do ano em sua vida.


Madame Bleue.

sábado, 15 de outubro de 2011

Nota sobre a Vida, por Thiago Almeida.

Ando vivendo tanto, que deixei de viver. Os meus dias tem sido só gás carbônico e labuta. Esqueci-me de tudo, esqueci até de não me esquecer de ti. Ando tão absorvida na ganância de viver tanto, que deixei minha vida. Hoje, fiquei abestada em frente à imagem que se formava defronte a minha janela - vi o sol. Me impressionei tanto, que por doze minutos – contei no relógio – deixei a vida entrar em mim. Senti o sol ardendo, queimando, brilhando demais, chegou até incomodar e eu lembrei, lembrei de mim. Eu vivo ultimamente tão imersa no cotidiano fabricado que esqueci o prazer de contestar, eu pareço uma porta de madeira que aceita tudo, que lhe abram, que lhe fechem, que lhe pintem da cor que quiserem e que permanece sendo porta, ou apodrecendo, sendo porta.


Eu estou desesperada, o único gosto que sinto é o amargo na boca: são os meus rins, funcionando mal, um sinal fisiológico que tudo vai de mal a pior, mas precisava disso? Meu coração não me deixa esquecer,  ele se deteriora todos os dias. Desculpem a grosseria! - Ainda bem que não escrevo para médicos, pois sei que quem me lê tem estomago forte e nenhum apego ao real. Talvez seja esta é minha função, lembrar-lhes das chagas desta vida.



Os ratos passeando pela sala lembram-me que o pudor é algo desnecessário nesta vida, sair do esgoto e entrar em um apartamento de luxo para comer o resto de lixo que produzo. Quisera eu ter a audácia de invadir casas e escancarar os falsos sistemas cristãos que prevalecem nestes lares. Não entendem? Meus versos não fazem mesmo sentido; mas para quem sentiu um arrepio, irei gritar em palavras cruas. Existem homens que me chamam de suja, pois eu escrevo sobre suas sujeiras, e como não sair suja de tanta imundície causada por eles. Eu estou viva, e falando demais, me perdoem a enrolação.Depois de ter visto o sol, me atrevi em pensar em tudo, e isso me incomoda. Vou dormir, e acordar e esquecer-me de viver: tem sido melhor assim.


Até mais ver, prometo que não os abandonarei. Momentos ruins existem até para nós, pseudônimos da verdade.

 
Com amor, e talvez uma migalha de esperança.

Madame Bleue.

domingo, 25 de setembro de 2011

Carta aos Meus Fãs, por Thiago Almeida.

Nessa manhã acordei e parece que ainda estou bêbada, mas não sei se é de álcool da noite que em poucas horas acabou ou se é somente a infelicidade crônica que já virou psicodelia.
Abro a janela, procurando uma esperança que viesse de um dia de sol, mas o dia está nublado, está tudo escuro. Ando pela casa e acendo meu cigarro; tento uma leitura, tomo mais uma golada de conhaque, mas nada aqui faz mais sentido.
Tem dias que a escolha que fiz desta vida minha pesa, tem dia que não queria ser o que sou  e prometo que na segunda serei uma revolução, mudarei de corpo e alma e serei uma nova mulher: Mas eu sei que segunda eu irei acordar e ver que o tempo passou demais, e que revoluções na minha idade estão fora de moda.
E nesta vida já não há mais salvação para minha alma que já nasceu condenada. Minha solidão nesta manhã de 1936 é enorme, não tenho um amigo se quer, só tenho vocês meus leitores, que por vezes acalentam meu ser com suas cartas cheias de afago e admiração.
Às vezes me deparo com histórias que por hora me emocionam, histórias tristes, mas regadas de vida,  e aventuras de amor que não deram certo e que acabam em estações de trem, porém exalam vida vivida. Eu queria telefonar, mas o único numero que me vem à cabeça é da mercearia onde compro a pouca comida que mantêm meu corpo funcionando.
Queria escrever mais cartas, mas meu punho está cansado de desperdiçar tinta para endereços que não existem. Sinto uma solidão tão devastadora hoje, que queria lançar-me no além, me despedir dessa vida, mas o meu egoísmo me mantêm aqui, de pé, dia após dia vivendo, ou seja lá o que for esta existência minha. Já são 11 da manhã e nem posso sair do meu quarto, pois onde quer que eu vá serei uma inútil, não quero atrapalhar a visão das famílias felizes no parque com suas crianças sorrindo. Hoje eu não irei ao bar, nem ao teatro, nem ao cinema, estou farta da sociedade a que não pertenço. Talvez eu ligue para algum comunista que possa me vender uma revolver dourado para por um fim em mim, mas seria desperdício de pólvora tentar matar,o que já não mais vive.

 
Não peçam por minha alma, nem façam novenas,
Não acredito em milagres.


Obrigada,


Madame Bleue.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Disparate de Escritora, por Thiago Almeida.



Hoje eu dei gargalhadas em plena livraria, e não fui porque li alguma charge comunista, foi porque li e vi com olhos e óculos o atrevimento de muitos que escrevem para o grande público. Sabe não penso que sou uma boa escritora e isso amarga minha alma, mas tento esquecer todas as noites tomando uma garrafa de conhaque, ou o contrário. Mas fico impressionada e um pouco chocada com os que escrevem sobre o comum, mas não se sentem comuns. Já falei sobre ser comum em alguns de meus versos; tenho boa memória. Escrever é meramente paixão e inspiração, sem isso são apenas palavras, amontoados, vazios que não tocam se quer o mais derretido coração. Às vezes me sinto bruta, talvez eu seja, mas hoje não quero adjetivo nenhum a respeito de mim mesma. Quero apenas compartilhar que falar do amor, por mais banal, que bocas imundas tornem esse sentimento-primeiro, é necessário respeito. Quando se escrever sobre dor, tem de se ter cuidado especifico, pois saiba que alguém do outro lado, fora da página se encaixa perfeitamente em cada espaço entre as palavras e ali se entrega, pois aquela é tua vida, é a tua escrita feita por outrem, é teu coração dilacerado em meio a paginas, é um consolo, pois mostra que no mundo alguém além dele, é capaz de amar ou de doer assim. Queria tanto rasgar aquelas páginas profanas, mas fui silenciada com guardas na portaria, às vezes esqueço que estou em mundo civilizado; como disse talvez eu seja um tanto quanto bruta. Então eu ri da ousadia destes escritores que nos fazem de refém com suas verdades cor de rosa, com suas dores falsas e seus prantos mentirosos. Escrever de dor e amor pra mim é oficio sério, só os escrevo quando realmente os sinto. Ou quando me torno caçadora de recompensas, quando visto minha pele suja de boemia e rancor, e assim caminho pelos bares sem hora marcada, sem limite de bebida, sem cintos de segurança, sem rumo, apenas caçando os inofensivos amantes. E, aliás, hoje prometi a mim mesma a sair, preciso apressar-me, ando sedenta da boemia, vagarei sobre os bares das ruas, talvez eu encontre alguma história, talvez eu encontre algum destes escritores inescrupulosos e descrentes no amor fazendo estória. Seria perfeito, deitar-me sobre a cama de quem escreve de amor sem me ter conhecido, uma noite seria o suficiente pra eu lhes mostrar do que em meus rascunhos está cheio e de que meu coração está vazio: compaixão humana.


Madame Bleue.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Amor e Normalidades, por Thiago Almeida.


Você tira de mim as rimas mais bregas de amor, mas também tens o poder de me fazer rogar as mais severas pragas que o coração humano é capaz de pensar. Tu és o verdadeiro anjo caído do céu, fostes abolido pelo próprio Deus que não agüentou teus devaneios, e fez com que caíste de para quedas que fosse em cima de meu coração. Entrou-me amor pelas entranhas, como cocaína entra pelo o nariz sangrento em um corpo sem vida; para que haja a vida. Para mim; para que não haja nem uma gota desta longe de ti. Sou covarde, e não irei lhe matar, não quero matar o que não morrerá jamais dentro de mim. Serei megera e talvez eu fuja em uma carruagem na alta madrugada, talvez eu não saia viva desta fuga, como se este corpo ainda exalasse um fio se quer que seja de existência. Tentei tomar um gole de veneno uma noite dessas, misturei ao álcool para que quando a morte chegasse não me encontrasse sóbria. Mas teu veneno é tão mais forte que me deixa bem ao mesmo tempo em que me destrói. Não me vejo no espelho, e mal me sinto vampira, não vejo sangue em minha pele, tudo é cinza. Não tenhas pena de mim, pois não nada valho, deixei me levar por este amor demoníaco quando ainda me era prometido à salvação, mas eu jamais quis assim; salvação, para que? Quis você, e sabia de todos os teus males, desde o principio quando te vi, reconheci a decadência em seu espírito, e me senti como uma criança conhecendo um anjo de natal. Quero acabar-me e restaurar-me, quero uma granada para ocupar o lugar de meu coração, quero uma bomba atômica em meus punhos para que eu tudo exploda, e mate todos os nossos resquícios durante a eternidade. Pois eu sei que a morte jamais lhe impedirá de ser o que é: sempre haverá um resto de tu pelo mundo. E se eu revelasse ao mundo: tu que pensas; eu não existo; ele também não. Talvez eu seja apenas um resto de alma que tem força e audácia para declamar algumas palavras sem significado algum a não ser o insignificante, talvez seja tudo ilusão, talvez ele não exista talvez o que eu amo é apenas o que me dispus a amar: o nada. Um buraco negro, talvez seja isto que nossos corações quando juntos estão são capazes de tornarem-se. Queria cortar seu rosto com minhas unhas e ver a cor do sangue vermelho-chumbo que saem dos teus vasos sanguíneos. Não me diga que és uma maquina, pois jamais acreditei na tecnologia humana. Acredito, sim, são nos meus sentimentos obsessivos que me fazem andar em um ponte sem ter o medo do fatal. És o fatal, é o lado obscuro que todos aprendem a não amar, mas que eu me sinto loucamente atraída. Em um papel preso numa parede do meu quarto talvez esteja escrito que estou louca, talvez. Como se eu acreditasse em adjetivos tão comuns. Pra quem já viu a loucura despida e segurando apenas uma cabeça humana; é fácil soletrar uma palavrinha tão sutil assim, compreende-la... Acham que me prenderam em uma cama, mas eu sei que você virá e mesmo que não me liberte, mostrará a estes doutores quem sois: Irá arremessar todas as portas para longe de ti e virá em meu leito acariciar-me o cabelo e depois injetar em minhas veias a dose do nosso veneno diário, para que eu saia desta realidade palpável e te ame, onde meu amor pode respirar fundo: no infinito, ou no inferno. 


Madame Bleue.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amor de Inverno, por Thiago Almeida.



Ouvi essa música mais cedo e quis fazer um conto baseado na história da canção, espero que gostem, porque eu não gostei.

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Detesto esses tempos de férias, andar pelo o centro da cidade, ir ao teatro, tornam-se tarefas torturantes. Fico com inveja de minha cidade e de meus covis em que me acalento com um café ou com uma cadeira preferida de frente ao Piano, no meu bar preferido na rua das paixões insólitas. Sinto-me invadida, com tantas raparigas andando na cidade com penteados que jamais vi, em revistas que fosse. Detesto muito mais estas férias alheias, por um motivo inconfesso que vou lhes contar. Tenho que compensa-los - ando desnutrida de palavras, meu coração está anêmico. No inverno passado conheci um rapaz, aliás, o destino nos apresentou, pois esse já julgava conhecer-me através de meus livros. Eu estava tomando licor de Cassis; andava demasiadamente dócil naqueles dias.

A criatura era brasileira, sim, era um rapaz alto, de barba, cabelos encaracolados e de pele muito branca e o sotaque arrastado denunciou sua naturalidade; era um baiano destes bem malandros. Desafiou-me a todo o momento. Olhou em meus olhos, enquanto falava, então percebi que era momento da retirada, falei estar ocupada, com cabeça cheia e que iria embora e foi quando o diabo ofereceu-me uma bebida, perguntou o sabor do licor que bebia. Eu não quis Licor; pedi conhaque; era momento de ser mulher e não presa. Com seu olhar devasso, que parecia estar carregado de todas as verdades sobre mim, me deixou atônita e me sentindo nua. Estava sem palavras, absurdamente sem palavras.

Conversou sobre a sua vida, falou somente dela, mencionou seus amores, advertindo-me ser uma conversa descompromissada que não acrescentaria em nada a minha vida ou aos meus capítulos literários. Em um momento da conversa segurou minha mão e eu já não podia conter meus impulsos, estava loucamente envolvida com aquele rapaz. Saí sem pedir licença, peguei um charuto do senhor da mesa vizinha, acendi e saí correndo pelas ruas.

Senti-me apaixonada, loucamente apaixonada. Mas que paixão perturbadora era aquela que fez com que eu perdesse todo meu sentido ético em algumas horas de conversa? Eu não sabia de nada, de mim, de nada. E corria. Corria pelos quarteirões, não existia senso de direção algum em mim e por quase 20 minutos não percebi que saia da rua, dava a volta pela rua de cima e entrava na mesma, e que passei pelo o mesmo bar três vezes, no qual o rapaz ainda estava e sorria a cada vez que me via passar.

Até que na derradeira vez que me viu passar surgiu em minha frente como um fantasma, um assombrosamente sedutor. Pedi-lhe um beijo; não deu. Um abraço; sorriu. Pedi-lhe a mão; não quis dar. Fugiu. Quis gritar seu nome, mas eu não sabia nome algum. Então caí no chão com os olhos arregalados de tanta dor. Via as estrelas do céu e também avistava a cruz da Igreja da praça e eu que não sou de fazer pedidos assim, pedi a Deus que me mandasse de volta pra mim.

 Acho que fiquei algumas horas deitada na calçada feito um trapo de gente, levantei, já era boca da noite e eu não podia voltar pra casa, precisava buscar refúgio em uma boa música e na companhia de um copo cheio de álcool para fazer sedar meus sentidos.

Eu olhei no espelho do banheiro do mais próximo botequim que encontrei, onde uma senhora de meia idade cantava boleros em espanhol e entendi que estava louca. Aquilo era a loucura; aquilo era imaturidade; considerei-me uma tola em permitir-me a imaturidade dessas na idade em que eu me encontrava uma peça tão bem pregada assim não deveria pegar alguém de coração tão cascudo assim como eu. Voltei pra casa e comecei a escrever, mas eu mal conseguia segurar o lápis, só vinha em minha mente à imagem daquele belo rapaz, e o via em tudo, descrever-lhe não era fácil tarefa, aqueles olhinhos, aquela boca, aquele cabelo e aquele perfume que eu jamais o senti em frasco algum ou exalando de corpo que quer que fosse.

Obcecada, eu estava, e com o nascer do dia perguntei a mim mesma que diabos era aquilo, e então foi que resolvi tomar um banho e espera-lo no mesmo bar, quem sabe ele retornasse e não tivesse querido beijar-me por mal me interpretar, mas lembrei que eram 5 da manhã e nesta hora os bares ainda encontram-se fechados. Quem sofre de amor é como um vampiro, e sua vida é igual ao um tumulo onde este não o vê passar o dia só se vive no calar da noite. Parece que a sede do coração tem hora certa pra começar, ela os perturba o dia, no começo da tarde ela começa a sufocar e no começo da noite ela enlouquece, não há este ser que resista a sua chegada, a visita da angustia, é certa.

Aproveitei então para cuidar da vida, fiz um café, fumei alguns cigarros, fui à feira, comprei um frango, o matei , depenei, cozinhei e o despejei inteiro na lixeira. Percebi que estava me enganando apenas buscando afazeres fúteis que me fizessem esquecer aquele maldito.

Às três horas da tarde fui ao teatro, um pouco de Tchaikovsky me faria bem, mas me enganei. A Cada ré que soava do violino eu me angustiava, a musica entrava em meus ouvidos e se espalhava por minhas entranhas como alguma droga e eu disparei-me a chorar do camarote em que estava, fumava como uma louca, não queria perder uma nota musical sequer. Aquilo anestesiava minha alma e eu me retorcia na cadeira, não conseguia ficar sentada, com o teatro cheio levantei-me da cadeira, me pus a beira da sacada e percebi que alguns olhares me condenavam, mas eu estava imersa naquela musica que se misturou ao amor dentro de mim me deixando em êxtase profundo.

Seguranças vieram perguntar-me se eu me sentia bem, mandei que se retirassem, procurei acalmar-me, mas não agüentei, me entreguei novamente ao som dos violinos que ecoavam sobre o teatro. Quando a musica chegou a seu ápice envolvida por um sentimento que até hoje não encontro palavras que possam descrevê-lo: gritei – Basta! – e foi tão alto que pude sentir minha voz ecoando pelas paredes brancas e frias e retornando a mim mescladas com o som enfurecido dos violinos.

Sai descendo as escadas, precisava fugir daquele lugar e a cada degrau que eu descia, me sentia livre, era uma fuga de mim mesma.

Foi quando o vi novamente, me recompus e fui ao seu encontro, e ele me apresentou tua esposa, - eu juro quis arrancá-la de seus braços, se eu estivesse bêbada e armada talvez aquele fosse meu fim.

Mas os deixei ir, quem sou que direito tenho de amar o homem de outra. Nos outros dias continuei vivendo de maneira hostil, desintoxicando-me a cada dia com doses diárias de bebida, dormia durante o dia, e como vampira de noite ia ao encontro dos meus; os que se permitem esta utopia chamada amor, nos bares das ruas desertas de gente de verdade. Pois os que se entregam neste martírio já não são verdade tem tempo.



Com amor,

Madame Bleue.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Calada, por Thiago Almeida.

Sabe do que eu ando sentindo falta? Do nada, pois nada foi o que sempre fomos. Eu e tu: Um nada; igual quando quis juntar meus trapos, leia-se coração, a ti, e foi tudo que sempre pude ser: NADA. Mas nada é o que sinto por ti, para ti. Para mim tu és tudo, pois eres que me mantêm em pé aqui. Se tu soubesses o quanto deste nada reside em mim, tu se calarias, pois calado vive, calado de mim, pois calado de tudo jamais eu serei. Eu vivo a sua espera no teu encalço, nas esquinas quando passa dos bares em que bebeu a passar da conta, é lá que estou. Nem me vês; como sempre; igual quando me dispo de todo sentimento calado que vive em mim. Tu és um ingrato e sei disso, tu és os meus sonhos que já me acostumei somente em sonhar. Em mim, cativas a paciência e lonjura por alguém eu jamais ousei pensar em ter. Não quero que saibas, por isso tantas metáforas, masas vezes quero que morras, por tantas palavras. Esta minha ambigüidade é culpa sua: desgraçado que amo.E bem um dia, talvez com muito álcool em minhas veias eu corra o risco de falar deste sentimento que calo. Talvez um dia, tu acordes com um buquê de rosas com meu sangue para juramentar perante a ti com prova viva todo meu amor, e talvez a partir deste dia tu não te cales mais, talvez ao menos enxergue com teus olhos diabolicamente dóceis o amor que sinto aqui neste coração que já gelou de tanto frio causado pela solidão.




Madame Bleue.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sem amor algum, por Thiago Almeida.

Ando tão cruel comigo mesma, decretei fim ao meu coração, não consigo mais amar e isto penaliza minha escrita, se vocês meus caros leitores vissem minhas gavetas e meus últimos escritos talvez tivessem noção do caos que me abate. Tudo que tenho escrito ultimamente vai para a lixeira, nada me agrada, tudo isso porque não estou emersa no que inspira meus dedos com esmalte vermelho carcomido, o maldito e bendito amor. Percebo que viver sem amar é tão confortável que ao papel não há nada a ser dito, nenhuma verdade cruel para externizar e fazer dilacerar o coração sombrio de quem me lê, ser racional tem um preço, vivemos sem o doce afago da paixão, chegamos ao fundo do poço e enxergamos o paraíso. Esta condição é muito rara para mim que nestes dias conturbados, onde nem a natureza se prostra mais aos homens me mantenho gélida a tudo. Não sei até quando estarei bebendo sobriamente, não sei até quando viverei sem paixão: confesso, estou bem amparada, estou me dando à oportunidade de ser fútil, marco viagens, compro vestidos e pinto meu cabelo. Nem o soar dos pianos que emana dos bares da Rua Gabriel Eterno me comovem. Acho que sem amor, eu não existo e quando não me encontro não me escrevo. Que Deus não me castigue amanhã de manhã com alguma surpresa ao meu coração, talvez eu durma até mais tarde para que eu fuja dos acasos do amor. Encerro esta nota com muito apreço por vocês, meus fiéis companheiros, falarei desta forma suave, pois sei que são abutres esperando pela detorioração da minha alma através do que sempre escrevo.

Sem mais,

Madame Bleue.

Edna. Por Thiago Almeida.

Antes de mais nada, saiba que é apenas uma pequena homenagem...de coração minha querida :)


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Mesmo na areia do mar, e sei que em suas profundezas,
É  Mãe!
Sabe do amor, de ter, de ser amor.

Ê Odoyá!

As ondas do mar  quando batem nas pedras:
É seu coração quando se entrega.
Seus olhos refletem a força de uma espada.
Ela também é guerra.

Ogunhê!

Quem a conhece, com um bastar sorriso:
Se entrega!

Foi do mar sem fim, foi da floresta encantada,
Minha querida Edna... que você surgiu assim.

Okearó!

Quem passa por esta caçadora e não se sente presa,
De sua doçura herdada de Oxum,
Não sabe do amor do mundo.

Dona do bem mais precioso do reino encantado que é sua alma:
Somente seu coração, que emana sua presença encantada.
Quem nessa vida já lhe viu, sabe muito do mar,
Sabe que sempre com quem contar.

Entende da dor, guerreira que é;
Entende do amor por preciosa que é.

Quero que saiba, que Oxalá me enviou
Pra viver sempre perto do ti.

Erunha!

Filha do mar, Pina, Edna, Mãe, Filha e mulher
é bela de alma, e não espere que o mundo lhe prove,
Pois o mundo já se tornou cego.

Não queres reconhecimento, pois sabe que o que tens
É teu e para poucos que teu coração escolhe amar.

Ama sem fim, sem medo do combate de sua vida cotidiana.


No fundo dos teus olhos,
É que encontro o mar de amor que me perdi.
Quando seus olhos se enchem de lágrimas de sofrer,
Saiba que não choras sozinha, derrama sobre o mundo,
Um pouco do oceano de amor que tem uma nascente em teu coração!

Te amo minha querida!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Mulher Perdida, porThiago Almeida.

Sempre quis ser perigo, mas a vida só me fez mulher. Queria carregar grandes sonhos, mas nos meus pequenos braços só carreguei enxada e foice.
Na cidade grande; grande eu queria e dores grandes vivi. Aprendi a beber; bem mais que alguns homens feitos de ferro e dinheiro aguentariam - aprendi a amar. Aprendi o caminho de casa – mas já não existia um lar. Vivi bandida de crime algum; fui poeta de clandestinas estrofes. Fui a outra na cama de quem amor me dizia. Queria calar-me perante vida de tanto sofrer, queria de tanto sofrer calar esta vida vazia que me engole a cada dia. Vida voraz, sujeita avante, criatura imbecil e errante: dando escândalos nos bares, de maquiagem pesada e dormindo na calçada. Atire neste corpo sua ultima bala e quero que sejas certeira, quero que atinjas meu coração, quero ser só cérebro e razão por dois segundos que seja nesta vida. Cansei-me de ilusões!

Agora enterrada no fundo da terra – Só quero razão!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Princesa Ankita, por Thiago Almeida.

 Conta-se que em um reino muito distante chamado Sundara Dēśa, há milhões de anos vivia uma princesa chamada Ankita que possuía uma beleza jamais vista, diziam que seus olhos mudavam de cor de acordo com os ciclos da Lua, eram como pedras preciosas, cegavam quem muito neles tentassem penetrar e que também seus lábios eram detentores de desejo puro, homens iam à loucura ao ver e ouvir a princesa pronunciar uma palavra qualquer, juntamente com sua voz, que soava como um som celestial, uma harpa sagrada, capaz de transformar noite em dia e dia em noite. Em suas pinturas de rosto, misturava cores jamais vistas, que iam além do arco íris, seus cabelos negros e grandes brilhavam junto com o Sol - ninguém sabia quem mais brilhava. Era muitíssimo rica, vivia em seu castelo cercada de empregadas, se vestia com os melhores tecidos, diziam que possuía em seu castelo bichos de seda que também faziam as roupas de Deuses, enfeitava-se com todas as pedras preciosas que podia. Mas não era vaidosa. Qualquer um que a fosse seria, mas não Ankita.
Os anciões da cidade que viviam meditando no topo do Rio Sagrado, diziam que ela era a filha mortal da deusa Bhumi. Ankita só possuía um desejo em sua vida, casar-se e tornar-se mãe e perpetuar o amor recebido de Deus, ensinando seus filhos.

Ankita sabia de tudo que possuía, mas sabia de algo de muito valor que tinha que ia além de suas vestes sagradas, que suas jóias preciosas, que seus bens, que seu reflexo no espelho. Possuía Deus no coração

Príncipes de vários reinos distantes vinham lhe entregar presentes, lhe traziam jóias, pedras, ouro, especiarias, traziam-lhe flores, incensos mágicos, perfumes inimagináveis, espadas, poções mágicas. Certa vez um príncipe asteca, conhecedor da mais pura alquimia disse trazer consigo a poção da imortalidade.

- Eis que trago para a princesa, o mais precioso bem nos dado por Deus.
- O que é? Diga a Ankita.
- Uma poção, que farás com que sejas imortal.
- Es temente a Deus?
- De minha maneira, sim.
- Pois então deveria saber que somos imortais. Somos almas puras imersas neste corpo material. Este corpo acaba. A alma não. Pois Deus não tem fim, é mais inteligente que toda a alquimia. Não serás o nosso fim o sepulcro. Serás nossa perpetuação. É o que diz a canção de Deus. Sou imortal, este corpo para que olha não.

E este príncipe voltou para sua terra pensando nas palavras de Ankita e transformou os templos de alquimia em templos de Adoração a Deus.

Conta-se que em Sundara Dēśa as crianças brincavam com os anjos, que os animais falavam com elas e com quem mais quisessem ouvi-los, que as arvores saciavam-lhes com seus frutos se fome tivessem. Voavam em nuvens, adoravam a Deus com todo coração. Contava-se também que em noites de Lua Cheia, ela descia a terra para conversar com os humanos e os animais sobre como é a vida no reino celestial, junto a Deus.

No castelo, a princesa continuava bela e temente a Deus.

E alguns reinos, pessoas com desvio da palavra de Deus e não conhecedores de Ankita e de sua fé, achando-se no direito de julgar o próximo diziam que Ankita não queria casar, dizia que gostaria de continuar a receber presentes de seus pretendentes para que ficasse cada vez mais rica. Outros diziam que era uma bruxa, que sua aparência na verdade tenebrosa.

Uma vez uma empregada disse a Ankita sobre um destes boatos.

Ankita disse:

- O devoto de Deus, sabe como é grande a sua misericórdia e não deve se aborrecer se falam coisas que não são verdade. Não abra teus ouvidos a boatos demoníacos, pois abrirá tua vida para o demônio da discórdia, das desavenças. Abra seu coração às palavras de Deus e só ouvirá sua voz, mesmo que os demônios tentem lhe falar.

E voltou a rezar.


Os dias passavam, era inverno e um forasteiro chegou à cidade, com vestes brancas e simples, pensaram ser um monge, mas este se identificou como muçulmano, seu nome era Arshad. Dizia estar ali porque Deus havia falado contigo sobre Ankita, e que teria uma missão - unir para sempre os tementes a Deus em uma só nação.

As pessoas assustaram-se com sua audácia, pois o homem parecia não possuir bem algum a não ser poucas moedas suficientes para comida de alguns dias.

- O que poderá dar este mendigo a princesa Ankita?
Perguntavam-se os nativos da cidade.

Crianças observavam como o homem se voltava para o sul para recitar suas orações em uma língua diferente, tentavam imita-lo, e este sempre muito resignado em sua maneira, mas de uma doçura tremenda lhes ensinava com muito prazer.
Em uma noite contou histórias sobre seu país, as crianças, anciões da cidade ouviam com muito gosto e apreciavam muito a sabedoria daquele homem, mas ainda relutavam em pensar no que ele teria para oferecer para a princesa Ankita.
Depois de alguns dias em sua cidade, resolveu ir ao castelo de Ankita.Foi recebido por uma empregada que o conduziu até o salão principal, onde Ankita penteava seus cabelos recitando uma canção que ecoava pelas paredes do castelo e fazia com que os escritos sagrados ali desenhados dançassem aquela melodia transcendental.

- Quem deseja falar com Ankita? Disse a princesa.
- Sou eu Arshad.
- Arshad, bonito, o que quer dizer?
- Sagrado.
A princesa olhou fixamente nos olhos do rapaz.
- Soube que deseja casar-se, mas que só o fará com o homem que lhe trouxer o bem mais precioso de Deus.
- Sim.
- Pois aqui está princesa Ankita.


E entregou-lhe um livro com páginas de ouro e escrito com pó de diamante, o livro chamava-se Alcorão.

- O que dizem essas palavras?
- A palavra de Deus.
- O que diz este trecho em particular?
A princesa apontou o dedo em uma parte da escritura.
- Aqui diz “Louvado seja Allah Senhor do Universo, O Louvamos, Buscamos Sua ajuda e Sua orientação”.
- E aqui...
- “Fale a verdade, mesmo que ela esteja contra ti.” – a palavra de Deus.
- Eis que em minhas mãos está o bem mais precioso de Deus: Sua palavra.


A princesa ficou encantada e pediu que o rapaz lhe ensinasse aquele idioma, para que ela pudesse ler todo o livro sagrado. E passaram-se alguns meses até a Ankita resolver casar-se com Arshad.


Foi dada uma bela festa, nestes tempos os deuses eram tido como avatares de Deus. Personificações do poder divino, viviam na terra junto com os homens, não existiam continentes, a terra era uma só, dividida em diferentes reinos, mas una. Costumes, religiões, tipos de fé, diferiam, mas todas buscavam por Deus.

O casamento de Ankita foi celebrado pelos monges budistas, por muçulmanos, xintoístas, hindus. Vieram de reinos distantes os chamados Orixás, dizem que o Orixá Oxum, uma divindade dos Rios presenteou Ankita com muitos espelhos do ouro mais reluzente da terra. Vieram os Krishnas, os Cinco budas sagrados, os arcanjos, Salamandras, Elementais da natureza, Fadas, os Vedas, os Kamis, deuses de todos os lugares do mundo vieram prestigiar o casamento de Ankita, pois Ankita era fiel a Deus e conhecida de todas as divindades da humanidade.

Junto com essa celebração, Ankita contou a todos um grande segredo, ela disse que Deus lhe dera essa missão de casar-se com um homem temente a ele, e unificar todas as religiões e escrituras sagradas em um livro chamado de “Pūjā sabhī tarīkōṁ vē apanā nāma batāyā jā sakatā hai kī bhagavāna” , cuja seria a revelação Final de Deus para a humanidade, seria o contrato de boa convivência entre todas as nações e divindades da terra.
Esta noticia foi aceita com muita emoção por todos, que celebraram com um grande circulo de mãos dadas para adoração plena de Deus, envoltos por canções que aclamavam a existência do Criador com a seguinte passagem em diferentes idiomas “Deus é poderoso para manifestar-Se diante um devoto em qualquer forma, apesar dos devotos escolherem formas de adoração.” e assim foram dias de celebração.

Em um certo dia, Ankita foi a um outro reino junto com Arshad. E o castelo ficara só, então um demônio chamado Ḍ'āha com o propósito de destruir a paz existente entre todos os homens e a da terra roubou as escrituras de seu local onde em outrora havia designado permanecer: A casa de Ankita.̔

Ankita ficara transtornada quando recebera a noticia, não sabia o que fazer, mas não se entregou, orou a Deus e pediu a ele sabedoria. Muitos se sentiram perdidos sem o Kāma Sagrado. Ankita teve um pressentimento ruim, sentia que as pessoas deixavam o medo tomar conta de seus corações e cada vez este ocupava mais espaço do que os sentimentos inerentes a Deus.

Até que dúvidas surgiram, príncipes de outros reinos acusavam Ankita de roubar o Kāma para que ela pudesse ser a detentora de toda a palavra de Deus. Ankita se angustiava. Pessoas nas ruas gritavam, acusavam-na, gritavam palavras de ódio que perturbava a meditação dos Vedas e assustavam as divindades terrenas que passaram a receber oferendas para destruição alheia e não mais somente para bondade, saúde, alegria. A sociedade se corrompia bem como demônio quisera, deixou as pessoas cegas de ambição, ódio.
 Ankita não sabia mais o que fazer. Os deuses um a um iam retornando ao céu, pois a terra estava se tornando um ambiente impossível para vivência de seres tão puros e celestiais. As arvores não mais falavam, a Lua se calou, e os humanos cada vez mais distantes das palavras de Deus, julgavam Ankita como ladra, perversa. Arshad não resistiu a tanto ódio emanado das pessoas, das provocações, dos ataques, e ficou muito doente. Ankita então pediu ao deus Yama que desse uma boa hora a seu amado marido e este atendeu Ankita, levando seu Arshad para junto de Deus.

Os anos se passavam e a situação estava cada vez pior. Os conflitos não existiam somente pela dubiedade sobre o sumiço do Kāma, o ser humano tornou-se maléfico e sedento por sangue. Mas Ankita lembrava das palavras do Dharma “Eu apareço de tempos em tempos para proteger os bons, para mudar os malvados, e restabelecer a ordem no mundo para a rede de transmigração”.


Os dias em Sundara dēśa não eram mais os mesmos, Deus estava triste e ninguém notava. Toda prática religiosa ali praticada estava sem religiosidade alguma, o Deus-Vivo, tornara-se utopia. Até que em um dia de fúria e revolta dos deuses, houve uma tempestade que ficou conhecida como “Dēvatā'ōṁ kī bāriśa mēṁsū” que durou 5 minutos, mas dividiu o mundo tal como ele é conhecido hoje. A deusa Durga, desceu a terra para buscar Ankita, que renegou fugir dizendo: ām̐

- ó Adorada Durga, deusa da esperança, não posso fugir e deixar o meu povo destruído como está, a palavra de Deus diz:             “O protetor ideal possui firme, oposição rígida, para todos os malvados na sociedade. A obrigação (Dharma) de um protetor é de lutar contra toda a ação incorreta (Dadharma) e injustiça na sociedade.”

E pediu que lhe transformasse em um pássaro para que ela pudesse voar em busca do Kāma sagrado, para tentar reiterar a paz no seu reino e na terra.
Durga advertiu sobre todos os perigos a cada passo, sobre os perigos em cada ação, mas Ankita insistiu e então conservando toda a sua beleza, Durga transforma Ankita em um pássaro dourado de grande beleza, capaz de voar tão alto como jamais algum outro voou.

E finalmente depois de muita busca, ajudada pelos vedas de adivinhação, pelos oráculos sagrados, Ankita descobre que sobre uma influência demoníaca, o dirigente de um reino chamado Bhraṣṭa possui consigo o Kāma Sagrado. Ankita em forma de pássaro adentra o reino e tenta resgata-lo  para poder levar o mesmo as mãos de um Arcanjo que levará de volta a Deus, para que ele possa fazê-la retornar as mãos de um outro avatar de revelação.

O dirigente daquele estado ao descobrir que existe um pássaro dourado na cidade atrás do Kāma, pede orientação ao seu Guru, que lhe diz que este pássaro fora enviado pelo demônio para que ele tenha todo o conhecimento de Deus para um feiticeiro distante. Não sabia o dirigente que o próprio demônio era o Guru.

Então ordens de captura ao pássaro são passadas aos militares de todo o estado e capturam Ankita e levam-na ao dirigente.

- Então eres tu o pássaro enfeitiçado que viestes roubar o Kāma?
- Não importa se agora sou pássaro, já estive mulher, sou temente a Deus isto eu sei. E Não vir roubar o Kāma, vim resgatá-lo como tentativa de salvar a humanidade. Não percebe os males que estão se acometendo sobre nós?
- Como foi bem instruído, sabe até falar...
- Devolva-me o Kāma e levarei de volta a Deus, e a paz será restituída na terra.
- Jamais! Cale-se pássaro insolente! Vou mandar sacrificar-lhe, e pegar tuas penas e fazer um bonito adorno para mim.
- Podes até sacrificar este corpo de pássaro, mas não minha alma, tenho certeza do que sou e por mais que o senhor não acredite, um dia verá os frutos de estes teus atos pecaminosos amadurecerem e lhe será cobrado o preço por eles, clame a Deus e peça perdão antes que seja tarde demais...
- Cale-se! Como ousa me rogar pragas?
- Não estou rogando pragas, estou a lhe a falar a verdade...
- O que um pássaro enfeitiçado sabe sobre a verdade?

O dirigente se enfurece e pede que levem Ankita e o pássaro então é degolado. Todos ficaram surpresos, pois do corpo do pássaro não derramava uma gota de sangue sequer, mas sim um perfume de sândalo puro que se alastrou pelo ambiente.  Não era o fim de Ankita, era o seu nascimento para uma nova vida.

Logo após, ter assassinado Ankita o dirigente foi até a sala de leitura do seu Kāma, e abriu em uma página em que dizia: “O seu Deve-se considerar todas as criaturas como sendo nossos filhos. Esta é uma das qualidades de um verdadeiro devoto. Os sábios consideram todas as mulheres como sua mãe; outros, um montinho de terra como riqueza, e todos os seres como seu próprio ser. Rara é a pessoa cujo o coração se enternece pelo ardor da tristeza dos outros, e que se regozija ao escutar o mérito dos outros.”

Seu coração encheu-se de tristeza, pensou talvez o pássaro ter razão e não agüentando a dor de cometer uma grande injustiça perante a Deus jogou-se do alto do prédio do seu palácio.



Dizem que até hoje em suas reencarnações Ankita continua a buscar o Kāma, para tentar salvar a humanidade de todas as guerras e violência que conhecemos hoje em dia. Ankita pode estar do nosso lado tentando nos dizer o que nós esquecemos “Pūjā sabhī tarīkōṁ vē apanā nāma batāyā jā sakatā hai kī bhagavāna” ou seja “Adore o Deus de todas as maneiras que possam ser ditos teu nome.”






sábado, 2 de abril de 2011

Não, Sim... por Thiago Almeida.

Sei de mais nada, sei nem quem quero ser amanhã, pois hoje quando acordei vi que não sou nada do que ontem eu quis que fosse. Talvez semana que vem, quando você acordar e sentir-se assim, eu receba uma ligação, talvez eu atenda, talvez eu diga não. - Porque tô com essa mania besta. Dizer não.
Aliás, eu te disse sim, você disse não, você sempre diz não quando é sobre mim - ainda bem que a vida me fez forte para que aturasse isso tudo de não. Sei que não sou feito de tanto não, sou feito de muito sim, sou feito de muito raio e se me conheces sabe bem que de também trovão e de muito, muito ar: Gás carbônico e co2 para ti, sou simples assim. Ar que entra em teus pulmões te mantém vivo e depois cruza os oceanos, os monstros apocalípticos dos oceanos e se transforma em um tufão: é ar quente, é ar frio é devassidão.
Todos os dias são assim: é dado uma chance de começar algo novo quando o sol nasce,e isso não precisa ser exatamente algo bom, simplesmente o é. É algo como: Pegue seus trapos e saia.
Vista o seu luxo e corra, suas jóias e tranque-as. Pegue o seu amor: lute ou abandone. Sem nenhum pudor eu digo – ABANDONE! Não caia nessa cilada bandida de tanto sim pra dizer não.
Não se engane com o que eu escrevo, não penses que me entende naquela linha, sempre soube surpreender.
Sim. 
Se permita, mas não, não se entregue. Assista casamentos aos sábados e não se lamente de ser só. Leia um livro, acenda um incenso, seja natural. Caia de bêbado, faça sentido, pare de fumar, escreva uma canção que fale de amor, perca seu tempo – Eu canso desses avisos pendurados na minha testa.
Parta, antes que seja partido. Seja bobo como uma criança – mas não esqueça de contestar: toda criança deve ser boba? Escreva rimas doentis: eu te amo meu amor - aspirina ajuda na dor.
Recorde, recorte e monte. Diga não para estes rapazes cheirando a flor, que lhe reviram, tiram-lhe de sua ordem. Não espere me ler e fazer sentido, deixei de sentir tem muito tempo e mesmo assim ainda dói.

domingo, 27 de março de 2011

O que fui, O que sou: Saudades. por Thiago Almeida.

Ah que saudade daqueles dias chuvosos,
Daquelas incertezas que não tinha...
Daqueles sábados em que ria que dançava,
Que cantava e que acreditava...
Saudade do rosto juvenil perante o espelho
Começando a se espremer no corpo que grande ficava.


Saudades dos questionamentos que eu tinha,
Das descobertas que eu fazia...
Do jeito que te via, de como você ria,
De como eu inocente te via e só ria.
Não que não conheça mais o ser feliz,
Mas sinto saudades das coisas que tive e de que não tive,
Dos erros que cometi pensando em acertar,
Das cartas que eu escrevia eram lindas...


Os anos passam, seu sorriso muda,
Seus olhos continuam brilhando,
Meus olhos sentem aquela falta desse brilho.
De todas as coisas que sinto falta,
Lembro do amigo querido,
Quando o vi pela primeira vez tão calado e tão diferente,
Pensei: Que lindo! Quero que seja meu amigo.
Era um sábado à tarde... Eu assim o fiz...

Saudades, saudades daquelas canções que não mudaram de letra,
Mas já hoje perderam o significado.
Meu caro lindo eu hoje eu queria te ligar,
Talvez você não atenda,
Meu grande amigo nem sabe o quanto te amo...
Espero que seja feliz, eram dias felizes...
De algumas brigas, mas da amizade que sempre será mantida,
Quero que seja assim, talvez mudada, mas de amor sem fim.

Saudades de uma tarde do dia 16 de Junho,
Nas escadas de um algum lugar qualquer...
Da minha insegurança em frente do primeiro amor,
Da carta tão carinhosa e feliz que do meu próprio punho escrevi...
Os teus olhos, tua mão, teu jeitinho meigo que vermelho me deixava,
Você não sabe o quanto eu te amava ali,
 Você não sabe o quanto eu te amo hoje,
Você não sabe a falta que tudo me faz...  
Essa falta transforma a cada dia mais e mais meu coração
E me faz saber esperar-te bem aqui.

Foram dois anos que não te vi,
Mas mesmo assim saudade ainda sentia,
Mas aprendi a rudez do mundo que eu jamais quis que fosse assim,
 E fingi que não te vi, fugia de mim pra fugir de ti.

Saudades dos outros amigos que tive e fiz,
Dos que acabaram e se foram de mim para outros caminhos longes,
Bem ali.
Saudades dos sorrisos que eu causei,
Dos momentos que eu gritei,
Dos abraços que eu conheci,
Das lágrimas que eu consolei, dos dias que vivi.

Saudades daquelas mesas de bar,
Confissões e gelo que meu coração ali conhecia.
Saudades das minhas paixões, sempre as respeitei,
Quero levá-las sempre na memória...
Não me permitiram muito até hoje amar,
 Uns eu escolhi que fosse assim,
Outros pedi que Orixás levassem embora de mim...
Outros decidiram que não eram pra mim.

A caminhada da vida é grande e pesada,
Tem muita lágrima, muita perda, muito amor,
Muita dor e muita escolha no alto de tudo.
Ainda há muito o que perder, muito o que te amar,
Muito o que te esquecer,
Muito que de novo me apaixonar,
Mas depois disso tudo..
Só espero te encontrar, mesmo que seja no fim,
No ultimo suspiro,
Quero dizer – sempre estive aqui por ti.

terça-feira, 22 de março de 2011

Paixão e Ódio como sinônimos, por Thiago Almeida.

Texto random, um pouco forte. Tô meio cansado desses temas...

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Coitado, por trás da sua beleza que comove qualquer coração sedento por juventude, existe um rosto que ninguém enxerga, pois seu coração está tão podre que nem mesmo ele consegue fazer penetrar em sua alma qualquer sentimento que venha a lhe tornar mais um pouco doce criatura.

Tenho pena dos venenos que consome diariamente, suas mentiras envoltas em altas misturas de indecência e desprezo. Seu jeito severo e estúpido de freqüentar os piores lugares que os impudores dos homens lhe conduzem. É este o rapaz...

Às vezes quando me chega com a beleza que radia como sol e quase me cega com essa visão de amor e dor, olho em teus olhos e tomo meu antídoto que nem sempre é fácil, pois seus braços me prendem como uma terrível armadilha da qual nem sempre estou bem armada para uma fuga completa.

E quando ouço sua voz suave e mansa, mas cheia de tudo de mais tenebroso que um coração é capaz de reproduzir, fico cega, mas não cega de paixão, cega do seu ódio calmo que chega às minhas veias e faz-me avançar uma vontade de acabar com esse objeto perigoso e profano que se tornas cada dia mais e que serás cada dia mais um perigo constante aos bons corações.

Uma bala seria o suficiente para apagar-lhe da minha vida e da vida de muitos inocentes que cairão sobre sua cama e de lá não tão fácil assim sairão, mas logo desisto, pois apesar do demônio feito rapaz, aprendi junto aos teus testemunhos que ninguém merece ser poupado de nada que deva passar: Os tapas na cara que a vida dá, doem e podem ensinar a viver ou viver a destruir tudo que resta.

Rapaz aproveite muito enquanto a vida lhe dá o tempo de ser belo. Pois o seu coração logo apodrecerá, pois a ultima gota de bondade que lhe resta tu mesmo farás questão de aniquilá-la quando as armadilhas que cria te criarem.
Daí eu já estarei longe, talvez não mais viva, mas digna longe de ti. Garoto esperto, belo maldito... Hoje quero usar-te por completo e tomar essa última gota de prazer que sabes me dar, serás minha ultima manhã em que não acordo a base de morfina, álcool e nicotina. Parta, para esse seu caminho de aventuras e me deixe, deixe-me com coração em necrose e com a alma bem mais que apagada.



quinta-feira, 17 de março de 2011

Morte? por Thiago Almeida.

Sinceramente, achei o texto chato. Arrumei algumas coisas e acrescentei outras, a acentuação tá ruinzinha, mas eu vou revisar em breve, me incomodou quando eu fui ler.
Abraços.
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Eu estava esgotada, mamãe me consome demais, sabe como é né, sempre sobra para as filhas, pois os filhos homens se isentam da responsabilidade de cuidar das mães, não estou sendo ingrata e insensível, sim porque é assim que sou chamada lá em casa, me chamam de faladeira, mas é verdade oras homens só colocam a comida na mesa e dão o dinheiro da despesa e acham que estão salvando o mundo. Eles nem lembram que a mulher pra se deitar bonita com uma camisola nova, dessas de cetim tem que se rebolar economizando moeda, e eu não estou louca não, falo isso porque eu vejo a sina das minhas irmãs mais novas, casaram-se uma com um russo, ô homem murrinha e a outra casou com um islamita, irãmita, eremita, ai sei lá, não gravo esses nomes estrangeiro sei mal falar o nosso português, pão duros que dão até dó. Do que eu tava falando mesmo? Acabei me perdendo. Minha cabeça está fraca por demais, mas também mamãe não me dá folga, você compra maçã ela diz que não come você não compra ela diz que sente falta, você diz que cachimbo faz mal ela fuma, você leva o melhor fumo da feira ela acusa de queremos envenená-la! Meu pai! Será que eu vou ficar dessa mesma maneira? Deus me livre.
 E por falar em envelhecer, eu notei que os fios brancos isolados que eu tinha no cuco se transformaram em mexas, e ainda nem casei, e nem vou, homem hoje só quer saber de se engraçar com menina mocinha, mulher madura que nem eu perdi o valor e olha que eu sei cozinhar, limpar uma casa como ninguém, mas né? Não tive sorte. Ora esta, que sorte o que? Muito melhor é estar só, do que ter que agüentar esses bandidos, pois sim que os homens são uns bandidos, não existem mais homens como papai, aquela raça de senhores respeitáveis que bebiam dia de domingo na varanda rodeado dos filhos fazendo música na viola, acabaram, hoje em dia além desses estrangeiros que invadiram nossas cidades, nossos comércios existe uma légua de cabelo aprumado e cheirando a colônia, graças a Deus, tive esse destino, mulher direita, devota de Nossa senhora até o ultimo fio de cabelo. Sou muito apegada a Deus, olha só ele viu pra dar conta de nossas vidas e nos livrar de todo mal, não existe novena que não dê jeito, Deus não castiga um filho que está inocente e que tem fé no santo rosário. Mas às vezes já que me predispus a desabafar aqui, irei confessar, tenho medo de adoecer e acabar só, SIM! Adoecer e não ter que quem cuide de mim, quem penteie meus cabelos, quem lave meus lençóis, quem apague a luz, quem atenda ao telefone, quem receba as correspondências, quem regue minhas violetas, bom, não sinto falta de carinho e nem afeto, isso é bobagem. Confesso que esse assunto tem me deixado intrigada, quando eu era moça nova eu não queria nem saber de homem, só quis uma vez e não deu certo e decretei luto oficial a esta racinha, mamãe adorou, disse que seriamos ótimas amigas e companheiras, viajávamos, fazíamos peregrinarão, mas agora coitada, ta toda entrevada e atacada de dor e pra falar a verdade, o Padre Zézito já veio me dizer que eu peça muito a Deus e Virgem Maria para que eles lhes dêem uma boa hora, pois está próxima a hora dela estar junto dos dois, ave Maria. O que vai ser de mim?  Vou ir vivendo né? Desculpe, esse assunto tem me tirado o sono, eu até fumo um cigarrinho de vez em quando, mas PELO AMOR DE DEUS! Que isso fique entre eu e você, ninguém pode saber, mas sabe quando eu fumo me sinto acolhida, parece que não estou só, lembro daquela canção da Dalva “fumar é um prazer que faz sonhar, fumando espero aquele a quem mais quero...”... Estou me sentindo nua por confessar a vocês meu vicio, não é bem vicio é necessidade é relaxante, calmante e ainda cantei um trecho de música, musica essa que aprendi porque fui obrigada, na antiga pensão em que vivíamos tínhamos uma vizinha devassa, ouvia Dalva de Oliveira, Ângela Maria, recebia visitas de homens e exalava perfume de mirra quando passava por nós nas escadas, fazia muito barulho com seus discos, suas pulseiras enormes e seu salto alto arranhando o assoalho de seu apartamento, certamente ela dançava. Eu nunca dancei, não sou dessas. Sempre nos dava bom dia, mamãe jamais me deixou responder e penso que ela fez certo, não podemos dar ousadia de falarmos com mulheres dessa estirpe, nunca mais tínhamos ouvido falar dela depois que nos mudamos daquela pensão até outro dia desses, quando lemos no jornal, a encontraram morta no apartamento e uns disseram que foi suicídio, mamãe balançou a cabeça e disse que ela deve ter morrido de embriagues. Eu fiquei meio tocada, pois tirando o fato de parecer uma perdida, parecia ser boa gente, sempre lavando seus vestidos, fumando seu cigarro, na chuva, solitária, mas de noite aquela mulher virava do avesso, era um furacão e homens que até distintos pareciam, subiam seu apartamento, no outro dia lá estava ela, solitária.
AI MEU DEUS! Veja que sina triste foi encontrada sabe-se lá quantos dias depois de morta, minha nossa senhora, estou ficando obcecada com este assunto, esse medo está me deixando louca, acho que irei rezar.

Não consegui rezar, estou sentindo uma palpitação terrível em meu peito, será que vou morrer? Minha nossa, como sou tola, por um instante fiquei feliz, pois se eu estivesse morrendo nesse exato momento, mamãe sentiria minha falta amanhã e mesmo no estado em que está ela de certo me encontraria, velaria meu corpo e eu teria uma morte decente. Acho que vou me deitar e esperar a morte chegar, ou será que devo avisar mamãe? Ligar para minhas irmãs, para que elas me digam seus últimos gracejos, e condolências, NÃO! Onde estou com a cabeça, não estou morrendo, ou estou de fato? Sinto um mal estar enorme, mas será que é a morte? Vou acender uma vela e ver se realmente estou morrendo ou se é apenas coisa da minha cabeça, nem vou ousar chamar ninguém, pois se não serei condenada, mamãe vai me acusar de estar com idéias diabólicas debaixo de seu teto.

Já são três e meia da manhã e ainda não consegui dormir, estou toda dormente, nem força tenho para levantar-me, estou morrendo e o que eu fiz da minha vida, acho que fui boa filha, irmã, amiga, religiosa, sempre respeitei a igreja e os santos católicos, sempre fiz o bem, nunca me envolvi em baixaria, nunca forniquei, nunca me alcoolizei, só fumo de vez em quando, mas Deus há de perdoar esta filha? Ou será que não vai me perdoar? Será que estou sendo castigada, mas todos fumam nos filmes, nos bailes que vemos acontecer no centro e parecem ser tão felizes. Não pode ser Deus se isso for um castigo, o que vale tudo que eu sempre fui e fiz NADA? Será que és injusto dessa maneira? Ah não, não posso chegar a crer nesta hora da madrugada que tudo que fiz foi em vão, não, mas não foi isso é armadilha do diabo, sim, primeiro o cigarro agora as dúvidas sobre o poder de Deus em minha vida, e minha nossa a dor está cada vez mais me consumindo, mas acho que o sono chegará primeiro que a morte, esse sono pode ser morte também.

Ufa terminei o jantar, foi um péssimo dia, mal dormi essa noite com aquele delírios sobre a morte, parecia que estava vivendo em um pesadelo, vou me apegar mais, vou acender mais velas, estou em provação, só pode, vou fumar o ultimo cigarro essa noite em pronto, acabou, estarei livre...

Cinco e meia da manhã, um frio tenebroso e eu estou deitada sobre o chão, pois estou em brasa, estou exalando suor, acho que dessa noite não passarei, será? Será? Será? Hoje teremos visita mais cedo, minhas irmãs virão para almoçar, e se eu morrer esta madrugada, todas me achariam pela manhã e saberiam na mesma hora, iam tomar café e dizer todas minhas qualidades, queria estar aqui para ouvi-las falando de mim, de como era bonita e dedicada, da campainha tocando e as irmãs da igreja consolando mamãe, delas tocando os tricôs que faço minhas sobrinhas, meus cunhados tratando dos assuntos do enterro, minha nossa! Eu seria tão lembrada, tão adorada, todas iriam reconhecer-me e eu não morreria esquecida... Mas por que eu estou desejando isso? Preciso me confessar, mas e se mamãe morre amanhã, o que farei? Será que vou suportar? E se morrêssemos as duas juntas, seria trágico, e se pensassem que eu a assassinei, meu Deus, eu não conseguiria descansar no céu, com as pessoas me difamando, e se achassem às cinzas do cigarro e o corte de tecido vermelho que comprei faz anos, mas nunca tive coragem de por sobre as linhas de costura.

Vou levantar e limpar meu quarto, sem fazer muito barulho para que ninguém encontre cinzas ou cheio do tabaco no meu quarto e irei jogar o pedaço de pano pela janela.

Mamãe continua dormindo, o sol está nascendo, seria o momento lindo para morrer, se não for hoje, não pode ser domingo, pois nem mamãe estará em casa, só chegará à segunda, fico apavorada só de pensar em apodrecer sobre os meus lençóis limpos, as baratas, os vermes me comendo a carne! ARRRRRGH. O jeito será eu mesmo acabar com tudo isso, pois sinto que estou morrendo aos poucos, a cada dia o senhor leva um pedaço da minha alma. Não posso ter medo da morte, pois não tive medo de nascer. Agora volto a ser tudo que eu sempre fui e nunca soube um nada. Vou fechar meus olhos e acordar mortinha da silva, tenho certeza, esta dor no peito não cessa. Aos que ficam nesse mundo, boa sorte e rezem o terço.

Rezar... Rezar, rezar, eu estava enfadonha de tanto rezar e a loucura, a obstinação e essa maldita dor no peito que raios, não passavam. Ouvi no rádio uma história de segundas oportunidades e pensei talvez Deus esteja me dando uma segunda oportunidade de ser feliz e de viver tudo que eu não vivi. Bobagem. A idéia da morte me deixava cada dia mais encabulada, então resolvi que queria tudo nos trinques. Dentro do meu quarto eu pensava em todos os detalhes, os tecidos que estofavam o meu possível caixão, o sol brilhando, as margaridas, muitas velas derretendo, as coroas de flores, as lágrimas, eu sentia um prazer enorme em pensar assim, mas de repente surgiu na minha cabeça um medo pavoroso. E se meu caixão fosse de mau gosto? Se não fosse feito com madeira de cedro, envernizado, lustrado? E se o estofamento fosse azul marinho... Entrei em pânico e então pensei: Em segredo, irei comprar meu próprio caixão, irei deixa-lo do jeito que eu quiser e gravarei meu nome para que ninguém possa ser enterrado nele a não ser eu mesma.

Foi difícil entrar com esse enorme aparato e esconde-lo debaixo da cama, tive que dopar mamãe, o que já não é muito difícil em vista de tantos remédios que ela ingere todos os dias. Ele era lindo, lindo de morrer: literalmente.

De noite, quando eu sentia minha dor no peito, eu me vestia, perfumava, enchia de flores e me deitava sobre ele. Era confortável e gélido, sentia-me tão a beira da morte, com uma visão esplendorosa o teto de meu quarto transformado em céu. E era assim todas as noites e principalmente todo domingo esperando ser encontrada morta, bem vestida, já encaixotada, sem dar trabalho a ninguém, aposto que falariam de mim – “tão boa, que morreu dentro do caixão para não dar trabalho algum!”, “era uma santa”, “essa sabia o significado da religião, devota exemplar”, “como está bonita, mesmo póstuma, e sabem da melhor? Isso acontece aos filhos fiéis, morrem e Deus conserva a sua beleza”,

Mamãe não andava reparando em mim, mas fazia tempo que ela não mais em nada reparava, passava os dias a fio ouvindo novela no rádio e dormindo, não a culpo é possível que seja efeito dos remédios fortes dela. Eu estava vivendo, mas me sentindo morta e não pensem que isso é algo ruim, me sentia confortável, obstinada com algo: eu sempre fui assim. Esses dias no rádio ouvi falar de um baile para senhoras da meia idade e me veio à idéia de ir, por que não? Eu estava morrendo e nada mais justo que eu tivesse um pouco de desfrute na minha vida que fora sempre tão regrada e vivida na religião.
Já era tarde e comecei a arrumar-me, vesti com meu melhor vestido preto, pus um xale que eu mesma tinha costurado e estava lindo, tricô muito do bem feito, penteei os cabelos, não tinha batom nem rouge, mas também não gostava. Era demais pra mim. Então desci as escadas da pensão e quando estava chegando à portaria do prédio um frio passou pela minha barriga e eu estremeci e se eu viesse a óbito em pleno baile? Como faria? Todos meus planos de um velório limpo e merecedor de uma distinta senhora iriam água a baixo, mas mesmo sobre essa ameaça eu iria sair iria me aventurar, não demoraria muito daí assim driblaria a morte.

No baile dancei muito, não me importava com o nome dos senhores, alguns simplesmente me abraçavam e rodopiavam comigo no salão, tomei uns drinks de champagne, mas nada em excesso para que eu não ficasse embriagada, fumei, cantei e passaram-se duas horas e eu fui interrompida por uma pontada latente no coração, entrei em pânico, eu estava a morrer. Corri para o toalete, arrumei os cabelos, lavei as mãos, o rosto e saí em meio a tanta gente que parecia estar chegando naquele momento. Sai na rua e fiquei tonta em meio a tantos faróis acesos, não sou acostumada a andar por aí essas horas da noite por dentro eu gritava: Não posso morrer! Não posso morrer!

Atravessando na contramão, aconteceu o que eu mais temia: Um carro preto, desses chiques de doer, que parecem limusine veio em minha direção e arremessou meu corpo rechonchudo para o alto, bati sobre o vidro e rolei sobre o teto do carro. Caí no chão, ouvi alguns gritos e as freada brusca que fez arremessar de dentro do carro um caixão e vasos com flores, diversas, flores em quantidades que eu jamais teria condições de pagar por elas meu coração se encheu de alegria apesar da dor que sentia, senti q meus ossos tinham virado farinha dentro do meu couro: Estou aniquilada e não posso escapar, não hei de escapar. Vindo ao meu encontro o motorista do carro funeral veio acudir-me e argumentou sobre eu estar bem – que pergunta tola. Eu estava morrendo, acabada, mas estava satisfeita e lhe fiz um pedido e encucada com o meu fim, atropelada por um carro de funerária. Eu a beira de minha morte lhe pedi que me ajudasse e me colocasse dentro do caixão, colocasse flores e avisasse minha família e que se perguntasse eu havia dito que estava vindo da igreja. O rapaz me colocou dentro do caixão branco por dentro aveludado com estofamento azul marinho, como eu sempre quis, jogou as flores espalhadas pelo o chão como eu havia lhe pedido, mesmo achando tudo muito estranho e já eram muitos a observarem curiosos a situação, diziam “que mulher forte, como ela está agüentando” outros falavam” Estão loucos os dois ou é gravação de cena de algum filme”, filme? Minha morte comparada a uma gravação de cinema, que lisonja. Muitos aplaudiam, não entendi, mas consegui soltar um gemido no lugar de uma pequena gargalhada e senti algo que nunca havia sentido antes, sentia a dormência começando das pontadas dos dedos do pé e subindo aos poucos: Era o fim. Disse amém e dormência avançou rápido chegando até o meu ultimo fio de cabelo e ainda consegui ouvir a ultima batida do meu coração. Estava morta, mortinha, mas com sorriso no rosto – Pela primeira vez na vida eu tinha o que realmente queria minha morte decente e aclamada por todos.