sábado, 15 de outubro de 2011

Nota sobre a Vida, por Thiago Almeida.

Ando vivendo tanto, que deixei de viver. Os meus dias tem sido só gás carbônico e labuta. Esqueci-me de tudo, esqueci até de não me esquecer de ti. Ando tão absorvida na ganância de viver tanto, que deixei minha vida. Hoje, fiquei abestada em frente à imagem que se formava defronte a minha janela - vi o sol. Me impressionei tanto, que por doze minutos – contei no relógio – deixei a vida entrar em mim. Senti o sol ardendo, queimando, brilhando demais, chegou até incomodar e eu lembrei, lembrei de mim. Eu vivo ultimamente tão imersa no cotidiano fabricado que esqueci o prazer de contestar, eu pareço uma porta de madeira que aceita tudo, que lhe abram, que lhe fechem, que lhe pintem da cor que quiserem e que permanece sendo porta, ou apodrecendo, sendo porta.


Eu estou desesperada, o único gosto que sinto é o amargo na boca: são os meus rins, funcionando mal, um sinal fisiológico que tudo vai de mal a pior, mas precisava disso? Meu coração não me deixa esquecer,  ele se deteriora todos os dias. Desculpem a grosseria! - Ainda bem que não escrevo para médicos, pois sei que quem me lê tem estomago forte e nenhum apego ao real. Talvez seja esta é minha função, lembrar-lhes das chagas desta vida.



Os ratos passeando pela sala lembram-me que o pudor é algo desnecessário nesta vida, sair do esgoto e entrar em um apartamento de luxo para comer o resto de lixo que produzo. Quisera eu ter a audácia de invadir casas e escancarar os falsos sistemas cristãos que prevalecem nestes lares. Não entendem? Meus versos não fazem mesmo sentido; mas para quem sentiu um arrepio, irei gritar em palavras cruas. Existem homens que me chamam de suja, pois eu escrevo sobre suas sujeiras, e como não sair suja de tanta imundície causada por eles. Eu estou viva, e falando demais, me perdoem a enrolação.Depois de ter visto o sol, me atrevi em pensar em tudo, e isso me incomoda. Vou dormir, e acordar e esquecer-me de viver: tem sido melhor assim.


Até mais ver, prometo que não os abandonarei. Momentos ruins existem até para nós, pseudônimos da verdade.

 
Com amor, e talvez uma migalha de esperança.

Madame Bleue.