domingo, 25 de setembro de 2011

Carta aos Meus Fãs, por Thiago Almeida.

Nessa manhã acordei e parece que ainda estou bêbada, mas não sei se é de álcool da noite que em poucas horas acabou ou se é somente a infelicidade crônica que já virou psicodelia.
Abro a janela, procurando uma esperança que viesse de um dia de sol, mas o dia está nublado, está tudo escuro. Ando pela casa e acendo meu cigarro; tento uma leitura, tomo mais uma golada de conhaque, mas nada aqui faz mais sentido.
Tem dias que a escolha que fiz desta vida minha pesa, tem dia que não queria ser o que sou  e prometo que na segunda serei uma revolução, mudarei de corpo e alma e serei uma nova mulher: Mas eu sei que segunda eu irei acordar e ver que o tempo passou demais, e que revoluções na minha idade estão fora de moda.
E nesta vida já não há mais salvação para minha alma que já nasceu condenada. Minha solidão nesta manhã de 1936 é enorme, não tenho um amigo se quer, só tenho vocês meus leitores, que por vezes acalentam meu ser com suas cartas cheias de afago e admiração.
Às vezes me deparo com histórias que por hora me emocionam, histórias tristes, mas regadas de vida,  e aventuras de amor que não deram certo e que acabam em estações de trem, porém exalam vida vivida. Eu queria telefonar, mas o único numero que me vem à cabeça é da mercearia onde compro a pouca comida que mantêm meu corpo funcionando.
Queria escrever mais cartas, mas meu punho está cansado de desperdiçar tinta para endereços que não existem. Sinto uma solidão tão devastadora hoje, que queria lançar-me no além, me despedir dessa vida, mas o meu egoísmo me mantêm aqui, de pé, dia após dia vivendo, ou seja lá o que for esta existência minha. Já são 11 da manhã e nem posso sair do meu quarto, pois onde quer que eu vá serei uma inútil, não quero atrapalhar a visão das famílias felizes no parque com suas crianças sorrindo. Hoje eu não irei ao bar, nem ao teatro, nem ao cinema, estou farta da sociedade a que não pertenço. Talvez eu ligue para algum comunista que possa me vender uma revolver dourado para por um fim em mim, mas seria desperdício de pólvora tentar matar,o que já não mais vive.

 
Não peçam por minha alma, nem façam novenas,
Não acredito em milagres.


Obrigada,


Madame Bleue.