sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Bilhete Sem Título, por Thiago Almeida.



Aquele vazio que nem o álcool preenche mais, aquele vazio que já desgastou o que de esperançoso havia em ti. Os amigos que já não podem lhe dizer nada que console aqueles sonhos que você nem lembra mais. A estafa de ser, a estafa de lidar com tudo e nada mais. O papel não cabe mais e as palavras são idiotas. O cansaço da semana que aflige as pernas e a cabeça, nem Deus, nem Buda, nem ninguém. É só você nesse vale de sombras que tem entrada pelo o coração e desemboca no escuro da noite, sozinha no quarto, sem conseguir chorar porque um sertão de dor secou tudo em ti.



Não há mais lei alguma que baste quando você torna-se sua própria lei. Não existe mais em mim qualquer resquício que almeje a felicidade, cumprirei minha sina e por mais que gozem do meu drama, ele é assim. E eu me entrego a delicia de estar dentro do circulo que me cabe, mergulhada protegida em minhas decepções que de longe nem mais me interferem. Só quero estar assim, anestesiada pelo o feito divino dos meus barbitúricos, lítios e conhaque.

Madame Bleue.



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Carta da Manhã, por Thiago Almeida.



Acordei essa manhã ao som dos passarinhos, eu pensei que talvez estivesse curada da angustia, senti um lampejo de felicidade. Mas logo ao dar aquele grande respiro, senti o cheiro podre de veneno de barata, meus vestidos com cheiro de traça, meus móveis cheios de poeira e meu coração doendo como a vida inteira.

Fiz meu café, liguei na rádio pra tentar me distrair, mas o sentimento avassalador não calava em mim por mais que eu fumasse um cigarro atrás do outro. Tentei ler sobre os gregos, e eles falavam de amor e amor pra mim é assunto mais que gasto; já tenho minhas conclusões.

Queria abraçar o mundo. E eu que vivo em um país tropical que raramente tem seu céu nublado: Pedia, em um nesse dia que viesse  o sol ;Precisava de calor. Então eu não resisti a esse rompante de escrever que rasgava minha garganta feito faca. Adocei meu café com conhaque, uma aspirina pra relaxar o corpo e me sentei diante da escrivaninha, um móvel velho, mas onde eu me debruço e deixo sair tudo de mim.

Eu venho tentado acertar, até mudei de perfume pois cansei do cheiro de rosas, agora eu prefiro algo que se remeta mais a madeira e é também, confesso, pra fazer alusão ao meu espírito. Ele se encontra rígido, duro, frigido sem uma gota de esperança qualquer.

Digam, é mais um dramalhão, mas eu gosto de falar de mim para que aqueles que nesse momento pelo o mundo a fora se sentem assim, não sentirem-se desamparado no berço da dor.

Pergunte-me, mas do que se trata essa dor?  E eu te direi, que nem mesmo eu sei mais responder, só sei dizer que desde o dia em que partistes eu me entreguei,  a cada manhã que acordo sou iludida pelas flores na janela, buscando, reencontrar o amor e dou de cara com corações fechados, desprezo e sentimentos ingratos. Cada vez mais me recolho em minha alcova, fecho minha porta.

Embora, ainda sou fraca convicta. Tem vezes que me pego cantarolando bêbada ao som de um piano e sonhando, com as mil possibilidades que na minha vida queria. Sonho com você batendo a minha porta com aqueles olhinhos cheios de lágrimas me pedindo pra ser sua. Sonho, em talvez em um dia  quando eu estivesse sem guarda chuva, pega de surpresa na rua, você viesse, me desse amparo sobre o teu, me dissesse coisas de amor e do acaso. Sonho, por que não? Com um esbarro na calçada, com uma viagem de cruzeiro, com um balcão de bar, com uma cena de cinema. Mas ainda bem, que quase em todo o sempre estou lúcida, sem esperar nada. Assim como estou agora, me sentindo fracassada, porém amparada.

Sim, eu me sinto amparada em minha prostração, sinto-me bem protegida nessa minha redoma onde  me recolho toda a noite acompanhada das minhas melancolias, e eu prefiro que seja assim, aos poucos que me conhecem sabem que meu coração prefere não se encaixar em nenhum amor pois há muito que estou de luto, e vivo consciente de minha dor.




Muito sincera,

Madame Bleue.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Página rasgada, por Thiago Almeida.



Há quem me veja e só enxerga um rapaz com um cigarro na mão, sorrindo, e muitas vezes com vontade de explodir a cabeça dos outros.

Há quem me veja, e só veja em mim o que projetou depois de tantos anos me ver pedindo uma bebida e ficando bêbado.

Há quem me veja, e só enxerga alguém que ainda não aprendeu a lidar com seus sentimentos e lida com isso de forma bem humorada.

Há quem me veja e só veja o que acha que eu posso estar sentindo.

Todos os dias quando eu abro os olhos pela manhã, eu reflito – hoje é dia de ser menos “louco”.

Essa minha impulsividade que me domina, e me faz agir rapidamente em certas situações que a calma seria mais do que necessária. Mas sabe? Talvez você não acredite, mas eu acredito que paciência seja meu forte. 
Eu sempre esperei tanto e pra certas coisas eu ainda espero, nem sempre de bom humor e de bom grado, mas mesmo assim, espero.

As pessoas que amei - Olha, elas foram especiais para mim. Talvez elas não entendessem tudo que eu passava e tudo que elas significavam e que por tanto amar eu só as quisesse pra mim.

Ninguém entende que quando de manhã, eu fico escutando música, tomando café e acendendo incenso eu me sinto tão só. Eu limpo meu quarto, passo lavanda, passo qualquer coisa que lembre rosas. Eu gosto de me sentir assim. E a cada vez que movimento o rodo com um pano, traço meus sonhos, imagino meu dia, remonto minha existência e mesmo assim continuo me sentindo sozinho.

Às vezes grito com os amigos, brigo, falo mais do que deveria. Mas meus amigos pra mim são importantes demais, pois só com eles consigo viver histórias de amor que fazem sentido. Antes de sair casa eu penso tanto, eu lido tanto com meu eu e talvez seja por isso que eu só chegue atrasado.

Eu também posso parecer ingrato a vida, quando ela me oferece “alguém” que enquanto aquele que espero não chega eu pudesse ir me divertindo. Mas esse não sou eu, se eu te vejo pego sua mão e não sinto que você é quem eu deveria abrir mão dessa prisão - me desculpe meu bem, mas não vai ser contigo.

Podem chamar de orgulho, ou seja, lá o que for. Mas eu quero ter aquela sensação de poder dizer – valeu à pena esperar. E talvez eu só espere. Talvez esse alguém nunca chegue talvez na velhice em determinados momentos eu me arrependa de não ter deixado a vida ter me pregado mais peças como essas.

Mas eu não sei, quando penso assim, prefiro acreditar no espiritismo. Talvez não seja nessa vida, e se assim for, fazer o que? A minha existência deverá ser plena, eu tenho muito que fazer e muito de bom pra dizer.

Mas eu peço a Deus que não me deixe sentir assim, pois eu queria uma vida de sorrisos, flores na barriga, de discussões com finais felizes. Uma vida de cumplicidade e de entrega a outra alguém que eu pudesse chamar de meu.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Espera de você, por Thiago Almeida.


Esse desespero da espera, essa angustia sincera do amanhã: Às vezes esse fardo de esperar tanto, pesa e dói. Por que eu não sou de ninguém? Às vezes eu olho pela janela do meu apartamento e vejo casais apaixonados, todos meramente humanos igual a mim. Qual será o meu defeito?

Deve ser porque só freqüento onde a melancolia se encosta, por eu ter cadeira cativa na mesa do sofrer de um bar. Deve ser porque quem diz que ser meu amigo ocupa demais meu coração. Ou não nasci digna de amar. Por vezes eu que sou incrédula até a ponta dos meus dedos, me pego crendo em destino e penso em procurar uma vidente que diga qual o sentido disso..

Meus amores sempre foram proibidos pra mim, nunca tive sorte de encontrá-los e encará-los docilmente e viver romances que eu sempre li. Mas essa espera que já dura, talvez ainda me traga recompensa, talvez o que venha seja o que sempre quis, mas ainda não estou pronta pro sim..

Eu ainda sou inocente e fantasio contigo, eu acho que você poderia salvar-me dessa mesmice que aqui eu digo, por isso é que me jogo aos teus pés, porque já não sei mais se devo esperar da vida ou devo tomar partida.
Eu te espero ainda vindo em minha direção e me convidando para um café, um cinema, um teatro ou uma volta qualquer. Queria que você resgatasse da carnificina de corações dos bares de esquina e me fizesse saber que essa espera que tanto me desatina, por fim faria valer a vida.

Seu moço, eu sonho contigo faz tempo, tem épocas que acho que te esqueço, mas basta os encontros repentinos fazerem você passar por mim, e eu ver o reflexo do sol brilhar em seus cabelos, seu sorriso fazer brotar flores em meu jardim, a sua mão me causar tremores e a sua voz causar comoção. Fico frágil e com o coração pesado e nem consigo dormir..

Faço tudo para que você me veja, uso salto, me penteio, mas parece que esse seu olhar inatingível te faz ver somente além de mim. Não me repara, não me encara, não me dá bom dia, não me traz flores e eu me sinto um fracasso, muitas vezes me embriago e fujo de mim.
Mas cumpro meu papel resignada, queria que fosse você, mas se a vida achar que não deve ser, continuarei na espera de viver esse doce amor, seja como for.

Para você - espero que algum dia leia.


Madame Bleue

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Despedida de Luisa, por Thiago Almeida.



Tá perto. A despedida cada dia encurta-se menos de nós. Eu fico aqui em casa calada, olhando os presentes que você costumava trazer, olho pras fotografias que costumávamos tirar, rio dos assuntos e das gargalhadas que costumávamos dar. Um dia vem o tempo e a vida e nos separa assim; você longe de mim.

Tantos caminhos a seguir e os que te encontraram foram justo os que te levarão para longe de mim, mas acho que com a idade fiquei mais conformada, sei que por mais que fique magoada sua vida é mesmo nessa estrada.

Peço-te que me mande cartas, cheias de letras que pareçam musicadas, quando sentir que minha imagem de sua memória está sumindo como fumaça, olhe aquele retrato, cante uma canção, reze ou dê uma golada em algo destilado. Por aqui eu vou lhe fazer um bordado, vou caprichar nas linhas, formas, cores, vou deixar tudo do jeito que você sempre gostou.

E tentando me conformar vou vivendo, às vezes esmorecendo, às vezes embriagada por aí, às vezes perdida dentro de mim, às vezes andando na contramão. Vou sonhar com tua volta todos os dias, vou rezar mil ave-marias, eu vou, e na festinha de Santo Antônio esse ano só vou fazer promessa pro nosso amor, em janeiro vou ao rio deixar uma flor – eu sei que a água corre mundo.

Mamãe disse que preciso ter desapego, que me iludo demais com teus aconchegos, que irás voltar amando outra e talvez assim seja, mas se assim for com fé em Deus enfrento mais essa empreitada. Mas eu não tenho medo, nem sou ingrata, pois aqui você só me mostrou o que ser adorada.

Vai meu garoto, menino que já é grande, vá pelo seu caminho que eu por aqui fico, eu sei que a vida jamais 
vai me tirar dessa casinha, Deus quando me deu a vida, não me destinou grande coisa, pode me chamar de louca, mas eu sei que minha sina é viver por ti até que algum dia morra.

Com muita saudade eu termino essa carta, desculpa se errei em alguma palavra, mas é que na tua presença eu só fico calada. Leva contigo por essa sua estrada, por mais longe que você esteja, se você pensar em mim jamais estará sozinho.

Luisa.

Vinte e cinco de Agosto de 1939.

domingo, 21 de julho de 2013

Perdoem, por Thiago Almeida.



Faz tempo - eu vim embora. Faz tempo, eu estou no mesmo lugar.

Eu ontem quando passei a mão no rosto, já com minha mão áspera como antes não era - senti as marcas da vida em minha fronte. Eu que bem tentava, eu que pouco falava, eu que jamais me encontrava, e que tanto dizia e nunca bastavam palavras.

Eu bem que queria fazer tudo diferente, mas fazer a diferença com o que eu sempre julguei ser tão pouco era o meu dilema.

Meu coração às vezes explode tanto de emoção, de amor, de angustia, mas sabe? – É tanta carne e é tanto sangue, é tanta mágoa e tanto pranto, que é tão difícil abrir a boca e tão difícil controlá-la.

Você que acha que eu não tenho medo de fazer por onde, mal sabe o que grita dentro de mim. Que em meus desejos mais complexos, no fim o que eu queria era apenas levar a vida que vocês quiseram pra mim.

Meus dias, às vezes me sufocam por eu não saber por onde começar, e quando começo, a incerteza dos caminhos de onde vou chegar me fazem parar. Todo dia, apesar das faltas de certezas que eu carrego comigo mesma, no fim de cada dia eu só queria fazer recompensar os amores que os outros sentem por mim.

Fico feliz por ainda conseguir registrar aqui uma gota do que meu coração anda transbordando: Meus anseios, meus medos, minhas incertezas, minha vida, minhas amigas, minha família.

Não me faço tão clara, pra que você não se assuste com que amarga dentro de mim.

Com amor,

Madame Bleue.