sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Carta da Manhã, por Thiago Almeida.



Acordei essa manhã ao som dos passarinhos, eu pensei que talvez estivesse curada da angustia, senti um lampejo de felicidade. Mas logo ao dar aquele grande respiro, senti o cheiro podre de veneno de barata, meus vestidos com cheiro de traça, meus móveis cheios de poeira e meu coração doendo como a vida inteira.

Fiz meu café, liguei na rádio pra tentar me distrair, mas o sentimento avassalador não calava em mim por mais que eu fumasse um cigarro atrás do outro. Tentei ler sobre os gregos, e eles falavam de amor e amor pra mim é assunto mais que gasto; já tenho minhas conclusões.

Queria abraçar o mundo. E eu que vivo em um país tropical que raramente tem seu céu nublado: Pedia, em um nesse dia que viesse  o sol ;Precisava de calor. Então eu não resisti a esse rompante de escrever que rasgava minha garganta feito faca. Adocei meu café com conhaque, uma aspirina pra relaxar o corpo e me sentei diante da escrivaninha, um móvel velho, mas onde eu me debruço e deixo sair tudo de mim.

Eu venho tentado acertar, até mudei de perfume pois cansei do cheiro de rosas, agora eu prefiro algo que se remeta mais a madeira e é também, confesso, pra fazer alusão ao meu espírito. Ele se encontra rígido, duro, frigido sem uma gota de esperança qualquer.

Digam, é mais um dramalhão, mas eu gosto de falar de mim para que aqueles que nesse momento pelo o mundo a fora se sentem assim, não sentirem-se desamparado no berço da dor.

Pergunte-me, mas do que se trata essa dor?  E eu te direi, que nem mesmo eu sei mais responder, só sei dizer que desde o dia em que partistes eu me entreguei,  a cada manhã que acordo sou iludida pelas flores na janela, buscando, reencontrar o amor e dou de cara com corações fechados, desprezo e sentimentos ingratos. Cada vez mais me recolho em minha alcova, fecho minha porta.

Embora, ainda sou fraca convicta. Tem vezes que me pego cantarolando bêbada ao som de um piano e sonhando, com as mil possibilidades que na minha vida queria. Sonho com você batendo a minha porta com aqueles olhinhos cheios de lágrimas me pedindo pra ser sua. Sonho, em talvez em um dia  quando eu estivesse sem guarda chuva, pega de surpresa na rua, você viesse, me desse amparo sobre o teu, me dissesse coisas de amor e do acaso. Sonho, por que não? Com um esbarro na calçada, com uma viagem de cruzeiro, com um balcão de bar, com uma cena de cinema. Mas ainda bem, que quase em todo o sempre estou lúcida, sem esperar nada. Assim como estou agora, me sentindo fracassada, porém amparada.

Sim, eu me sinto amparada em minha prostração, sinto-me bem protegida nessa minha redoma onde  me recolho toda a noite acompanhada das minhas melancolias, e eu prefiro que seja assim, aos poucos que me conhecem sabem que meu coração prefere não se encaixar em nenhum amor pois há muito que estou de luto, e vivo consciente de minha dor.




Muito sincera,

Madame Bleue.