terça-feira, 13 de agosto de 2013

Despedida de Luisa, por Thiago Almeida.



Tá perto. A despedida cada dia encurta-se menos de nós. Eu fico aqui em casa calada, olhando os presentes que você costumava trazer, olho pras fotografias que costumávamos tirar, rio dos assuntos e das gargalhadas que costumávamos dar. Um dia vem o tempo e a vida e nos separa assim; você longe de mim.

Tantos caminhos a seguir e os que te encontraram foram justo os que te levarão para longe de mim, mas acho que com a idade fiquei mais conformada, sei que por mais que fique magoada sua vida é mesmo nessa estrada.

Peço-te que me mande cartas, cheias de letras que pareçam musicadas, quando sentir que minha imagem de sua memória está sumindo como fumaça, olhe aquele retrato, cante uma canção, reze ou dê uma golada em algo destilado. Por aqui eu vou lhe fazer um bordado, vou caprichar nas linhas, formas, cores, vou deixar tudo do jeito que você sempre gostou.

E tentando me conformar vou vivendo, às vezes esmorecendo, às vezes embriagada por aí, às vezes perdida dentro de mim, às vezes andando na contramão. Vou sonhar com tua volta todos os dias, vou rezar mil ave-marias, eu vou, e na festinha de Santo Antônio esse ano só vou fazer promessa pro nosso amor, em janeiro vou ao rio deixar uma flor – eu sei que a água corre mundo.

Mamãe disse que preciso ter desapego, que me iludo demais com teus aconchegos, que irás voltar amando outra e talvez assim seja, mas se assim for com fé em Deus enfrento mais essa empreitada. Mas eu não tenho medo, nem sou ingrata, pois aqui você só me mostrou o que ser adorada.

Vai meu garoto, menino que já é grande, vá pelo seu caminho que eu por aqui fico, eu sei que a vida jamais 
vai me tirar dessa casinha, Deus quando me deu a vida, não me destinou grande coisa, pode me chamar de louca, mas eu sei que minha sina é viver por ti até que algum dia morra.

Com muita saudade eu termino essa carta, desculpa se errei em alguma palavra, mas é que na tua presença eu só fico calada. Leva contigo por essa sua estrada, por mais longe que você esteja, se você pensar em mim jamais estará sozinho.

Luisa.

Vinte e cinco de Agosto de 1939.

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