segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amor de Inverno, por Thiago Almeida.



Ouvi essa música mais cedo e quis fazer um conto baseado na história da canção, espero que gostem, porque eu não gostei.

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Detesto esses tempos de férias, andar pelo o centro da cidade, ir ao teatro, tornam-se tarefas torturantes. Fico com inveja de minha cidade e de meus covis em que me acalento com um café ou com uma cadeira preferida de frente ao Piano, no meu bar preferido na rua das paixões insólitas. Sinto-me invadida, com tantas raparigas andando na cidade com penteados que jamais vi, em revistas que fosse. Detesto muito mais estas férias alheias, por um motivo inconfesso que vou lhes contar. Tenho que compensa-los - ando desnutrida de palavras, meu coração está anêmico. No inverno passado conheci um rapaz, aliás, o destino nos apresentou, pois esse já julgava conhecer-me através de meus livros. Eu estava tomando licor de Cassis; andava demasiadamente dócil naqueles dias.

A criatura era brasileira, sim, era um rapaz alto, de barba, cabelos encaracolados e de pele muito branca e o sotaque arrastado denunciou sua naturalidade; era um baiano destes bem malandros. Desafiou-me a todo o momento. Olhou em meus olhos, enquanto falava, então percebi que era momento da retirada, falei estar ocupada, com cabeça cheia e que iria embora e foi quando o diabo ofereceu-me uma bebida, perguntou o sabor do licor que bebia. Eu não quis Licor; pedi conhaque; era momento de ser mulher e não presa. Com seu olhar devasso, que parecia estar carregado de todas as verdades sobre mim, me deixou atônita e me sentindo nua. Estava sem palavras, absurdamente sem palavras.

Conversou sobre a sua vida, falou somente dela, mencionou seus amores, advertindo-me ser uma conversa descompromissada que não acrescentaria em nada a minha vida ou aos meus capítulos literários. Em um momento da conversa segurou minha mão e eu já não podia conter meus impulsos, estava loucamente envolvida com aquele rapaz. Saí sem pedir licença, peguei um charuto do senhor da mesa vizinha, acendi e saí correndo pelas ruas.

Senti-me apaixonada, loucamente apaixonada. Mas que paixão perturbadora era aquela que fez com que eu perdesse todo meu sentido ético em algumas horas de conversa? Eu não sabia de nada, de mim, de nada. E corria. Corria pelos quarteirões, não existia senso de direção algum em mim e por quase 20 minutos não percebi que saia da rua, dava a volta pela rua de cima e entrava na mesma, e que passei pelo o mesmo bar três vezes, no qual o rapaz ainda estava e sorria a cada vez que me via passar.

Até que na derradeira vez que me viu passar surgiu em minha frente como um fantasma, um assombrosamente sedutor. Pedi-lhe um beijo; não deu. Um abraço; sorriu. Pedi-lhe a mão; não quis dar. Fugiu. Quis gritar seu nome, mas eu não sabia nome algum. Então caí no chão com os olhos arregalados de tanta dor. Via as estrelas do céu e também avistava a cruz da Igreja da praça e eu que não sou de fazer pedidos assim, pedi a Deus que me mandasse de volta pra mim.

 Acho que fiquei algumas horas deitada na calçada feito um trapo de gente, levantei, já era boca da noite e eu não podia voltar pra casa, precisava buscar refúgio em uma boa música e na companhia de um copo cheio de álcool para fazer sedar meus sentidos.

Eu olhei no espelho do banheiro do mais próximo botequim que encontrei, onde uma senhora de meia idade cantava boleros em espanhol e entendi que estava louca. Aquilo era a loucura; aquilo era imaturidade; considerei-me uma tola em permitir-me a imaturidade dessas na idade em que eu me encontrava uma peça tão bem pregada assim não deveria pegar alguém de coração tão cascudo assim como eu. Voltei pra casa e comecei a escrever, mas eu mal conseguia segurar o lápis, só vinha em minha mente à imagem daquele belo rapaz, e o via em tudo, descrever-lhe não era fácil tarefa, aqueles olhinhos, aquela boca, aquele cabelo e aquele perfume que eu jamais o senti em frasco algum ou exalando de corpo que quer que fosse.

Obcecada, eu estava, e com o nascer do dia perguntei a mim mesma que diabos era aquilo, e então foi que resolvi tomar um banho e espera-lo no mesmo bar, quem sabe ele retornasse e não tivesse querido beijar-me por mal me interpretar, mas lembrei que eram 5 da manhã e nesta hora os bares ainda encontram-se fechados. Quem sofre de amor é como um vampiro, e sua vida é igual ao um tumulo onde este não o vê passar o dia só se vive no calar da noite. Parece que a sede do coração tem hora certa pra começar, ela os perturba o dia, no começo da tarde ela começa a sufocar e no começo da noite ela enlouquece, não há este ser que resista a sua chegada, a visita da angustia, é certa.

Aproveitei então para cuidar da vida, fiz um café, fumei alguns cigarros, fui à feira, comprei um frango, o matei , depenei, cozinhei e o despejei inteiro na lixeira. Percebi que estava me enganando apenas buscando afazeres fúteis que me fizessem esquecer aquele maldito.

Às três horas da tarde fui ao teatro, um pouco de Tchaikovsky me faria bem, mas me enganei. A Cada ré que soava do violino eu me angustiava, a musica entrava em meus ouvidos e se espalhava por minhas entranhas como alguma droga e eu disparei-me a chorar do camarote em que estava, fumava como uma louca, não queria perder uma nota musical sequer. Aquilo anestesiava minha alma e eu me retorcia na cadeira, não conseguia ficar sentada, com o teatro cheio levantei-me da cadeira, me pus a beira da sacada e percebi que alguns olhares me condenavam, mas eu estava imersa naquela musica que se misturou ao amor dentro de mim me deixando em êxtase profundo.

Seguranças vieram perguntar-me se eu me sentia bem, mandei que se retirassem, procurei acalmar-me, mas não agüentei, me entreguei novamente ao som dos violinos que ecoavam sobre o teatro. Quando a musica chegou a seu ápice envolvida por um sentimento que até hoje não encontro palavras que possam descrevê-lo: gritei – Basta! – e foi tão alto que pude sentir minha voz ecoando pelas paredes brancas e frias e retornando a mim mescladas com o som enfurecido dos violinos.

Sai descendo as escadas, precisava fugir daquele lugar e a cada degrau que eu descia, me sentia livre, era uma fuga de mim mesma.

Foi quando o vi novamente, me recompus e fui ao seu encontro, e ele me apresentou tua esposa, - eu juro quis arrancá-la de seus braços, se eu estivesse bêbada e armada talvez aquele fosse meu fim.

Mas os deixei ir, quem sou que direito tenho de amar o homem de outra. Nos outros dias continuei vivendo de maneira hostil, desintoxicando-me a cada dia com doses diárias de bebida, dormia durante o dia, e como vampira de noite ia ao encontro dos meus; os que se permitem esta utopia chamada amor, nos bares das ruas desertas de gente de verdade. Pois os que se entregam neste martírio já não são verdade tem tempo.



Com amor,

Madame Bleue.

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