quinta-feira, 17 de março de 2011

Morte? por Thiago Almeida.

Sinceramente, achei o texto chato. Arrumei algumas coisas e acrescentei outras, a acentuação tá ruinzinha, mas eu vou revisar em breve, me incomodou quando eu fui ler.
Abraços.
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Eu estava esgotada, mamãe me consome demais, sabe como é né, sempre sobra para as filhas, pois os filhos homens se isentam da responsabilidade de cuidar das mães, não estou sendo ingrata e insensível, sim porque é assim que sou chamada lá em casa, me chamam de faladeira, mas é verdade oras homens só colocam a comida na mesa e dão o dinheiro da despesa e acham que estão salvando o mundo. Eles nem lembram que a mulher pra se deitar bonita com uma camisola nova, dessas de cetim tem que se rebolar economizando moeda, e eu não estou louca não, falo isso porque eu vejo a sina das minhas irmãs mais novas, casaram-se uma com um russo, ô homem murrinha e a outra casou com um islamita, irãmita, eremita, ai sei lá, não gravo esses nomes estrangeiro sei mal falar o nosso português, pão duros que dão até dó. Do que eu tava falando mesmo? Acabei me perdendo. Minha cabeça está fraca por demais, mas também mamãe não me dá folga, você compra maçã ela diz que não come você não compra ela diz que sente falta, você diz que cachimbo faz mal ela fuma, você leva o melhor fumo da feira ela acusa de queremos envenená-la! Meu pai! Será que eu vou ficar dessa mesma maneira? Deus me livre.
 E por falar em envelhecer, eu notei que os fios brancos isolados que eu tinha no cuco se transformaram em mexas, e ainda nem casei, e nem vou, homem hoje só quer saber de se engraçar com menina mocinha, mulher madura que nem eu perdi o valor e olha que eu sei cozinhar, limpar uma casa como ninguém, mas né? Não tive sorte. Ora esta, que sorte o que? Muito melhor é estar só, do que ter que agüentar esses bandidos, pois sim que os homens são uns bandidos, não existem mais homens como papai, aquela raça de senhores respeitáveis que bebiam dia de domingo na varanda rodeado dos filhos fazendo música na viola, acabaram, hoje em dia além desses estrangeiros que invadiram nossas cidades, nossos comércios existe uma légua de cabelo aprumado e cheirando a colônia, graças a Deus, tive esse destino, mulher direita, devota de Nossa senhora até o ultimo fio de cabelo. Sou muito apegada a Deus, olha só ele viu pra dar conta de nossas vidas e nos livrar de todo mal, não existe novena que não dê jeito, Deus não castiga um filho que está inocente e que tem fé no santo rosário. Mas às vezes já que me predispus a desabafar aqui, irei confessar, tenho medo de adoecer e acabar só, SIM! Adoecer e não ter que quem cuide de mim, quem penteie meus cabelos, quem lave meus lençóis, quem apague a luz, quem atenda ao telefone, quem receba as correspondências, quem regue minhas violetas, bom, não sinto falta de carinho e nem afeto, isso é bobagem. Confesso que esse assunto tem me deixado intrigada, quando eu era moça nova eu não queria nem saber de homem, só quis uma vez e não deu certo e decretei luto oficial a esta racinha, mamãe adorou, disse que seriamos ótimas amigas e companheiras, viajávamos, fazíamos peregrinarão, mas agora coitada, ta toda entrevada e atacada de dor e pra falar a verdade, o Padre Zézito já veio me dizer que eu peça muito a Deus e Virgem Maria para que eles lhes dêem uma boa hora, pois está próxima a hora dela estar junto dos dois, ave Maria. O que vai ser de mim?  Vou ir vivendo né? Desculpe, esse assunto tem me tirado o sono, eu até fumo um cigarrinho de vez em quando, mas PELO AMOR DE DEUS! Que isso fique entre eu e você, ninguém pode saber, mas sabe quando eu fumo me sinto acolhida, parece que não estou só, lembro daquela canção da Dalva “fumar é um prazer que faz sonhar, fumando espero aquele a quem mais quero...”... Estou me sentindo nua por confessar a vocês meu vicio, não é bem vicio é necessidade é relaxante, calmante e ainda cantei um trecho de música, musica essa que aprendi porque fui obrigada, na antiga pensão em que vivíamos tínhamos uma vizinha devassa, ouvia Dalva de Oliveira, Ângela Maria, recebia visitas de homens e exalava perfume de mirra quando passava por nós nas escadas, fazia muito barulho com seus discos, suas pulseiras enormes e seu salto alto arranhando o assoalho de seu apartamento, certamente ela dançava. Eu nunca dancei, não sou dessas. Sempre nos dava bom dia, mamãe jamais me deixou responder e penso que ela fez certo, não podemos dar ousadia de falarmos com mulheres dessa estirpe, nunca mais tínhamos ouvido falar dela depois que nos mudamos daquela pensão até outro dia desses, quando lemos no jornal, a encontraram morta no apartamento e uns disseram que foi suicídio, mamãe balançou a cabeça e disse que ela deve ter morrido de embriagues. Eu fiquei meio tocada, pois tirando o fato de parecer uma perdida, parecia ser boa gente, sempre lavando seus vestidos, fumando seu cigarro, na chuva, solitária, mas de noite aquela mulher virava do avesso, era um furacão e homens que até distintos pareciam, subiam seu apartamento, no outro dia lá estava ela, solitária.
AI MEU DEUS! Veja que sina triste foi encontrada sabe-se lá quantos dias depois de morta, minha nossa senhora, estou ficando obcecada com este assunto, esse medo está me deixando louca, acho que irei rezar.

Não consegui rezar, estou sentindo uma palpitação terrível em meu peito, será que vou morrer? Minha nossa, como sou tola, por um instante fiquei feliz, pois se eu estivesse morrendo nesse exato momento, mamãe sentiria minha falta amanhã e mesmo no estado em que está ela de certo me encontraria, velaria meu corpo e eu teria uma morte decente. Acho que vou me deitar e esperar a morte chegar, ou será que devo avisar mamãe? Ligar para minhas irmãs, para que elas me digam seus últimos gracejos, e condolências, NÃO! Onde estou com a cabeça, não estou morrendo, ou estou de fato? Sinto um mal estar enorme, mas será que é a morte? Vou acender uma vela e ver se realmente estou morrendo ou se é apenas coisa da minha cabeça, nem vou ousar chamar ninguém, pois se não serei condenada, mamãe vai me acusar de estar com idéias diabólicas debaixo de seu teto.

Já são três e meia da manhã e ainda não consegui dormir, estou toda dormente, nem força tenho para levantar-me, estou morrendo e o que eu fiz da minha vida, acho que fui boa filha, irmã, amiga, religiosa, sempre respeitei a igreja e os santos católicos, sempre fiz o bem, nunca me envolvi em baixaria, nunca forniquei, nunca me alcoolizei, só fumo de vez em quando, mas Deus há de perdoar esta filha? Ou será que não vai me perdoar? Será que estou sendo castigada, mas todos fumam nos filmes, nos bailes que vemos acontecer no centro e parecem ser tão felizes. Não pode ser Deus se isso for um castigo, o que vale tudo que eu sempre fui e fiz NADA? Será que és injusto dessa maneira? Ah não, não posso chegar a crer nesta hora da madrugada que tudo que fiz foi em vão, não, mas não foi isso é armadilha do diabo, sim, primeiro o cigarro agora as dúvidas sobre o poder de Deus em minha vida, e minha nossa a dor está cada vez mais me consumindo, mas acho que o sono chegará primeiro que a morte, esse sono pode ser morte também.

Ufa terminei o jantar, foi um péssimo dia, mal dormi essa noite com aquele delírios sobre a morte, parecia que estava vivendo em um pesadelo, vou me apegar mais, vou acender mais velas, estou em provação, só pode, vou fumar o ultimo cigarro essa noite em pronto, acabou, estarei livre...

Cinco e meia da manhã, um frio tenebroso e eu estou deitada sobre o chão, pois estou em brasa, estou exalando suor, acho que dessa noite não passarei, será? Será? Será? Hoje teremos visita mais cedo, minhas irmãs virão para almoçar, e se eu morrer esta madrugada, todas me achariam pela manhã e saberiam na mesma hora, iam tomar café e dizer todas minhas qualidades, queria estar aqui para ouvi-las falando de mim, de como era bonita e dedicada, da campainha tocando e as irmãs da igreja consolando mamãe, delas tocando os tricôs que faço minhas sobrinhas, meus cunhados tratando dos assuntos do enterro, minha nossa! Eu seria tão lembrada, tão adorada, todas iriam reconhecer-me e eu não morreria esquecida... Mas por que eu estou desejando isso? Preciso me confessar, mas e se mamãe morre amanhã, o que farei? Será que vou suportar? E se morrêssemos as duas juntas, seria trágico, e se pensassem que eu a assassinei, meu Deus, eu não conseguiria descansar no céu, com as pessoas me difamando, e se achassem às cinzas do cigarro e o corte de tecido vermelho que comprei faz anos, mas nunca tive coragem de por sobre as linhas de costura.

Vou levantar e limpar meu quarto, sem fazer muito barulho para que ninguém encontre cinzas ou cheio do tabaco no meu quarto e irei jogar o pedaço de pano pela janela.

Mamãe continua dormindo, o sol está nascendo, seria o momento lindo para morrer, se não for hoje, não pode ser domingo, pois nem mamãe estará em casa, só chegará à segunda, fico apavorada só de pensar em apodrecer sobre os meus lençóis limpos, as baratas, os vermes me comendo a carne! ARRRRRGH. O jeito será eu mesmo acabar com tudo isso, pois sinto que estou morrendo aos poucos, a cada dia o senhor leva um pedaço da minha alma. Não posso ter medo da morte, pois não tive medo de nascer. Agora volto a ser tudo que eu sempre fui e nunca soube um nada. Vou fechar meus olhos e acordar mortinha da silva, tenho certeza, esta dor no peito não cessa. Aos que ficam nesse mundo, boa sorte e rezem o terço.

Rezar... Rezar, rezar, eu estava enfadonha de tanto rezar e a loucura, a obstinação e essa maldita dor no peito que raios, não passavam. Ouvi no rádio uma história de segundas oportunidades e pensei talvez Deus esteja me dando uma segunda oportunidade de ser feliz e de viver tudo que eu não vivi. Bobagem. A idéia da morte me deixava cada dia mais encabulada, então resolvi que queria tudo nos trinques. Dentro do meu quarto eu pensava em todos os detalhes, os tecidos que estofavam o meu possível caixão, o sol brilhando, as margaridas, muitas velas derretendo, as coroas de flores, as lágrimas, eu sentia um prazer enorme em pensar assim, mas de repente surgiu na minha cabeça um medo pavoroso. E se meu caixão fosse de mau gosto? Se não fosse feito com madeira de cedro, envernizado, lustrado? E se o estofamento fosse azul marinho... Entrei em pânico e então pensei: Em segredo, irei comprar meu próprio caixão, irei deixa-lo do jeito que eu quiser e gravarei meu nome para que ninguém possa ser enterrado nele a não ser eu mesma.

Foi difícil entrar com esse enorme aparato e esconde-lo debaixo da cama, tive que dopar mamãe, o que já não é muito difícil em vista de tantos remédios que ela ingere todos os dias. Ele era lindo, lindo de morrer: literalmente.

De noite, quando eu sentia minha dor no peito, eu me vestia, perfumava, enchia de flores e me deitava sobre ele. Era confortável e gélido, sentia-me tão a beira da morte, com uma visão esplendorosa o teto de meu quarto transformado em céu. E era assim todas as noites e principalmente todo domingo esperando ser encontrada morta, bem vestida, já encaixotada, sem dar trabalho a ninguém, aposto que falariam de mim – “tão boa, que morreu dentro do caixão para não dar trabalho algum!”, “era uma santa”, “essa sabia o significado da religião, devota exemplar”, “como está bonita, mesmo póstuma, e sabem da melhor? Isso acontece aos filhos fiéis, morrem e Deus conserva a sua beleza”,

Mamãe não andava reparando em mim, mas fazia tempo que ela não mais em nada reparava, passava os dias a fio ouvindo novela no rádio e dormindo, não a culpo é possível que seja efeito dos remédios fortes dela. Eu estava vivendo, mas me sentindo morta e não pensem que isso é algo ruim, me sentia confortável, obstinada com algo: eu sempre fui assim. Esses dias no rádio ouvi falar de um baile para senhoras da meia idade e me veio à idéia de ir, por que não? Eu estava morrendo e nada mais justo que eu tivesse um pouco de desfrute na minha vida que fora sempre tão regrada e vivida na religião.
Já era tarde e comecei a arrumar-me, vesti com meu melhor vestido preto, pus um xale que eu mesma tinha costurado e estava lindo, tricô muito do bem feito, penteei os cabelos, não tinha batom nem rouge, mas também não gostava. Era demais pra mim. Então desci as escadas da pensão e quando estava chegando à portaria do prédio um frio passou pela minha barriga e eu estremeci e se eu viesse a óbito em pleno baile? Como faria? Todos meus planos de um velório limpo e merecedor de uma distinta senhora iriam água a baixo, mas mesmo sobre essa ameaça eu iria sair iria me aventurar, não demoraria muito daí assim driblaria a morte.

No baile dancei muito, não me importava com o nome dos senhores, alguns simplesmente me abraçavam e rodopiavam comigo no salão, tomei uns drinks de champagne, mas nada em excesso para que eu não ficasse embriagada, fumei, cantei e passaram-se duas horas e eu fui interrompida por uma pontada latente no coração, entrei em pânico, eu estava a morrer. Corri para o toalete, arrumei os cabelos, lavei as mãos, o rosto e saí em meio a tanta gente que parecia estar chegando naquele momento. Sai na rua e fiquei tonta em meio a tantos faróis acesos, não sou acostumada a andar por aí essas horas da noite por dentro eu gritava: Não posso morrer! Não posso morrer!

Atravessando na contramão, aconteceu o que eu mais temia: Um carro preto, desses chiques de doer, que parecem limusine veio em minha direção e arremessou meu corpo rechonchudo para o alto, bati sobre o vidro e rolei sobre o teto do carro. Caí no chão, ouvi alguns gritos e as freada brusca que fez arremessar de dentro do carro um caixão e vasos com flores, diversas, flores em quantidades que eu jamais teria condições de pagar por elas meu coração se encheu de alegria apesar da dor que sentia, senti q meus ossos tinham virado farinha dentro do meu couro: Estou aniquilada e não posso escapar, não hei de escapar. Vindo ao meu encontro o motorista do carro funeral veio acudir-me e argumentou sobre eu estar bem – que pergunta tola. Eu estava morrendo, acabada, mas estava satisfeita e lhe fiz um pedido e encucada com o meu fim, atropelada por um carro de funerária. Eu a beira de minha morte lhe pedi que me ajudasse e me colocasse dentro do caixão, colocasse flores e avisasse minha família e que se perguntasse eu havia dito que estava vindo da igreja. O rapaz me colocou dentro do caixão branco por dentro aveludado com estofamento azul marinho, como eu sempre quis, jogou as flores espalhadas pelo o chão como eu havia lhe pedido, mesmo achando tudo muito estranho e já eram muitos a observarem curiosos a situação, diziam “que mulher forte, como ela está agüentando” outros falavam” Estão loucos os dois ou é gravação de cena de algum filme”, filme? Minha morte comparada a uma gravação de cinema, que lisonja. Muitos aplaudiam, não entendi, mas consegui soltar um gemido no lugar de uma pequena gargalhada e senti algo que nunca havia sentido antes, sentia a dormência começando das pontadas dos dedos do pé e subindo aos poucos: Era o fim. Disse amém e dormência avançou rápido chegando até o meu ultimo fio de cabelo e ainda consegui ouvir a ultima batida do meu coração. Estava morta, mortinha, mas com sorriso no rosto – Pela primeira vez na vida eu tinha o que realmente queria minha morte decente e aclamada por todos.

2 comentários:

  1. Adorei! De verdade... Nem parei de ler no meio! kkk Vc escreve bem Thi... mas devia me contratar pra colocar um pouco mais de pontuação nos teus textos... rs (e por te conhecer, sei q essa falha é por pura preguiça!!!) Luv Ya***

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  2. HAHAHA que abuso, eu fiz isso propositalmente. Porque é pra dar a impressão de que a mulher fala sem parar, tudo atropelado. Eu li um conto assim uma vez, ficava super confuso em meio a tantas palavras... mas essa história não terminou, pensei em um outro final. em breve tô postando.

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