Acordei essa manhã ao som dos
passarinhos, eu pensei que talvez estivesse curada da angustia, senti um
lampejo de felicidade. Mas logo ao dar aquele grande respiro, senti o cheiro
podre de veneno de barata, meus vestidos com cheiro de traça, meus móveis cheios
de poeira e meu coração doendo como a vida inteira.
Fiz meu café, liguei na rádio pra
tentar me distrair, mas o sentimento avassalador não calava em mim por mais que
eu fumasse um cigarro atrás do outro. Tentei ler sobre os gregos, e eles
falavam de amor e amor pra mim é assunto mais que gasto; já tenho minhas
conclusões.
Queria abraçar o mundo. E eu que
vivo em um país tropical que raramente tem seu céu nublado: Pedia, em um nesse
dia que viesse o sol ;Precisava de
calor. Então eu não resisti a esse rompante de escrever que rasgava minha
garganta feito faca. Adocei meu café com conhaque, uma aspirina pra relaxar o
corpo e me sentei diante da escrivaninha, um móvel velho, mas onde eu me debruço
e deixo sair tudo de mim.
Eu venho tentado acertar, até
mudei de perfume pois cansei do cheiro de rosas, agora eu prefiro algo que se
remeta mais a madeira e é também, confesso, pra fazer alusão ao meu espírito.
Ele se encontra rígido, duro, frigido sem uma gota de esperança qualquer.
Digam, é mais um dramalhão, mas
eu gosto de falar de mim para que aqueles que nesse momento pelo o mundo a fora
se sentem assim, não sentirem-se desamparado no berço da dor.
Pergunte-me, mas do que se trata
essa dor? E eu te direi, que nem mesmo
eu sei mais responder, só sei dizer que desde o dia em que partistes eu me
entreguei, a cada manhã que acordo sou
iludida pelas flores na janela, buscando, reencontrar o amor e dou de cara com
corações fechados, desprezo e sentimentos ingratos. Cada vez mais me recolho em
minha alcova, fecho minha porta.
Embora, ainda sou fraca convicta.
Tem vezes que me pego cantarolando bêbada ao som de um piano e sonhando, com as
mil possibilidades que na minha vida queria. Sonho com você batendo a minha
porta com aqueles olhinhos cheios de lágrimas me pedindo pra ser sua. Sonho, em
talvez em um dia quando eu estivesse sem
guarda chuva, pega de surpresa na rua, você viesse, me desse amparo sobre o
teu, me dissesse coisas de amor e do acaso. Sonho, por que não? Com um esbarro
na calçada, com uma viagem de cruzeiro, com um balcão de bar, com uma cena de
cinema. Mas ainda bem, que quase em todo o sempre estou lúcida, sem esperar
nada. Assim como estou agora, me sentindo fracassada, porém amparada.
Sim, eu me sinto amparada em
minha prostração, sinto-me bem protegida nessa minha redoma onde me recolho toda a noite acompanhada das minhas
melancolias, e eu prefiro que seja assim, aos poucos que me conhecem sabem que
meu coração prefere não se encaixar em nenhum amor pois há muito que estou de
luto, e vivo consciente de minha dor.
Muito sincera,
Madame Bleue.