Há muitos e muitos anos quando o mundo
era escuro e sem luz. Obatalá soprou a vida, sob o seu manto branco semeou no
mundo os seres vivos: Os orixás todos vieram ver.
Naquela terra, Olodumare presenciou
muitas alegrias.
Quando a mão do homem que ora tornara-se vil tempos depois pesou sobre aqueles que guardavam esses segredos
e através do mar, sob navios frios e truculentos cruzaram os oceanos sob a
guarda; mesmo sob a tristeza e a dor, a sabedoria de tudo fora preservado.
E aqui desembarcaram, quantas folhas
sagradas nos deram, quantas batuques trouxeram, quanta resistência e fé.
Sob a espada da intolerância nossos
ancestrais vieram e onde se via apenas a sombra de uma árvore, para eles reinava
a energia mais sagrada, aquela árvore que mesmo grande ninguém notava recebia
águas em potes de barro para sob seus pés repousar, recebia devoção e
agradecimentos, ali meninos e mulheres vestiam-se de branco e todos os dias
vinham lhe saudar.
Quem atentava-se ao fato até gostava de
sentir o perfume das ervas que exalava sob os torsos brancos, o barulho dos balangandãs, o colorido dos colares.
Já quem ali se prostrava, sentia nos pés
o frescor da terra molhada, as formas do criador nas formas das folhas
sagradas. E quando a Senhora dos ventos agitava os galhos, todos se emocionavam
viam que a natureza viva eram seu maior legado.
Nas palavras de uma sábia senhora: Kosi
ewé, Kosi Orisá ou seja Sem folha não há Orixá, e dizia que alguns a derrubavam
para transformarem suas folhas em um
livro de palavras, um livro que alguns usam para condenar, julgar e resguardar
atrocidades contra ao próximos, enquanto
eu, dizia sob a voz rouca, sinal de longa idade - prefiro descansar debaixo de
suas sombras, crer, preservar, cultuar e admirar uma verdadeira obra de Deus.