Faz muito frio nesse apartamento,
acordei, olhei pro lado e vi na minha cabeceira um abajur apagado, uma cartela
de aspirina com o ultimo comprimido. Levantei senti um frio na espinha e achei
que pudesse vir de alguma fresta da janela, me olhei no espelho, e quando notei
meus olhos senti novamente o frio, mas dessa vez era no meu no peito: recordei-me;
meu coração gelado.
Andei um pouco pela casa, acendi
um cigarro, cantarolei um bolero antigo, fiz meu café, me sentei , fechei os
olhos e nos meus pensamentos olhei pra trás. Como em um baralho de tarô fui virando
e desvendando cada carta, só me apareciam figuras de amores fracassados.
Talvez eu quisesse chorar, mas
tudo dentro de mim está como um sertão gelado, um sertão onde a seca destruiu
tudo e nada nasce, mas também gelado a ponto de deixar congelar qualquer
tentativa de esmorecer.
Queria que minha vida fosse
diferente e ninguém pode me acusar de não tentar fazê-la, mas ela insiste em me
receber com seus caminhos hostis.
O desespero que se tornou parte
de mim me deixou inóspita e sem alternativa. Abri um livro antigo chamado bíblia
sagrada, cheias de palavras de consolo, mas infelizmente a vida já não me
permite ser mais tão inocente a ponto de me fazer acreditar em verdades que
nunca foram pra mim.
Talvez sejam os astros, talvez
seja minha encarnação passada, mas me perguntar por que não muda nada. Resta-me
despertar dessa pausa reflexiva, arregalar os olhos, seguir a diante e
tornar-me cada dia mais indiferente a essa realidade minha.
A dor é inevitável, livrar-se do
passado impossível, viver o presente é o caminho, projetar o futuro: um desperdício.
Com amor,
Madame Bleue.
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