terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Desconforto de um leitor, por Thiago Almeida.


Esse dia, um leitor em uma carta bem escrita, me perguntou, por que que eu e como eu mulher, sabia tanto do amor?
Disse-me baixinho, pude sentir, em tua caligrafia pesada, que minhas palavras pareciam cravar sobre seu peito uma estaca, que lhe faziam sangrar.
Disse, que eu deveria parar de escrever de amor, pois cada leitura que ele fazia e refazia de um texto meu, era como a uma desgraça bestial daquelas provindas de alguma profecia apocalíptica dos cristãos, cumprindo-se em sua alma, era labareda de fogo queimando sobre sua alma pecadora e indefesa.
Indagou minha inspiração, acusou-me de destruir sonhos cor de rosa de muitos.

Depois de rir: confesso;  jamais poderei deixar de escrever e de viver da maneira minha. Se queres saber se amei, me leia e saberá se souber-me. Minha vida é minha por direito e parição de minha mãe, a ninguém interessa saber demais de mim quem sou.

Pois ....
Respondi dizendo, que sou bicho noturno, e entro nos piores covis, me choco com tanta verdade insensata, de graça e que nos meus livros de autores mentirosos jamais vi - às vezes queria ser cientista para
que eu pudesse criar um estudo deste sentimento amor,  os escritores enfeitam demais a verdade - este sentimento que parece matar, de amor que seja, tantos loucos.
Nas mesas dos bares, calada fico, tudo que eu preciso saber está escrito nos olhos, e nas canções noturnas, é uma sociedade secreta.
Quem está na mesa alegremente rindo da barbárie que é viver, não se toca, não tem acesso, ou finge muito bem não fazer parte deste clube suicida.
Quando olho um jovem casal, me assusto, arranco dentro de minha bolsa preta um cigarro e coloco meus óculos de grau, e sempre peço uma bebida, sei que dali sairá mais uma impiedosa verdade de dor, um belo capitúlo, belo pra mim que escrevo, torturante para quem viveu. 
Juventude cheira a amor, cheira a caos.
Observo incansavelmente, às vezes só perco de vista quando alguem ao meu lado, me pede um cigarro, sempre nego, quero contribuir com sua descrença no ser humano - ninguém é bom.
Dias passam, meses passam, tudo passam, e a profecia se cumpre, de noite, bem cedinho, depois da meia noite é quando a falta de sono e esperança bate no peito e convida a beber do drinque de rancor, - e sei ,em casa não há bebida que console mais do que esta, esta de matar.
No bar, de noite, tem o consolo de estar entre os seus, de estar nesta sociedade privada, privada de felicidade, se matam de beber e de gostar, coitadinhos... bem feito!


Sem mais,

Com carinho,

Madame Bleue.
           

2 comentários:

  1. quem destroi sonhos cor de rosa somos nós mesmos.

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  2. Amei, e eu tbm me senti desconfortavel, é como se suas palavras soubessem de algo que era um segredo meu..Isso é bom, escrever para perturbar, essa é a finalidade..ou não.

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