quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Leitora-Personagem-Escritora, por Thiago Almeida.

Ontem à noite, depois de uma sessão de tortura no escritório, cheguei em casa tomei um gole de conhaque e fui foliar alguns escritos meus, - confesso foi duro, assim por demais.

Encarar de frente toda realidade minha que toma forma em letras miúdas e em frases que me golpeiam o espírito de tanta realidade prostrada.
Nunca pensei, que alguém tão pequena como eu pudesse falar tanto de amor, de dor, de decepções interruptas de uma vida nem tão grande assim - Cristo, minha realidade não é das mais boas - ou talvez ela seja igual à de todos, mas todos, não falam de si dessa maneira vulgar que costumamos nós escritores chamarmos de literatura.
A cada página virada, eu completava meu copo, era como um circo de horrores, eu não imaginava que meus diários fossem feitos de tão pura crueldade humana - Céus não se trata alguém que diz amar assim! Não sei.
Porém também revi mais adiante que santa eu não sou, não sou tão puro amor assim, alguns já foram massacrados em minhas mãos, sei dar o bote também - ora, mas também pudera, fui confrontada muito cedo com o sentimentalismo barato dos homens - falsidade pura. Quase sempre, sim.
Então reli um texto que jamais tive coragem de publicar, um escrito tão pessoal, - uma carta de despedida pro grande amor , desses que chamamos de amor da vida, sério e sóbrio, hoje morto - tão carregado de mim, de meu orgulho de minha inversão de valores, de minha falta de capacidade de saber amar que me arrancou um grito tão alto que fui abordada pela empregada – argh, eu estava transtornada de ódio e rancor.
Escritores são pessoas reais, idealizamos um amor, idealizamos situações de felicidade e infelicidade, o que parece nos dar algum crédito perante a vida, alguma facilidade em saber conduzir os fatos - mas não é assim, sou mulher, com carne, peito, bunda e talvez um pouco usual - mas sim, cerébro. Amo, e erro também, não sei nada, tudo que escrevo é apenas não me pertence, são palavras colocadas em frases que brotam da minha cabeça e do coração. Não posso me abster da realidade dos comuns viventes, sou comum, gosto do comum não tenho o dom da palavra, tenho a petulância de lidar com ela.
Vou subir e ir pra cama, não gosto de me expor assim - que irônia não é mesmo? - exposição maior que meus escritos, não sei se tem, talvez porque quando escrevo só eu sei do que falo, muitos pensam entender e muitos dizem me ler - prefiro que me sintam, este é meu segredo não tão secreto e nem tão importante assim.  Pensei comigo Talvez eu nunca mais escreva, pensei nas pobres garotas do interior, sonhando com os cavalos brancos dos livros de literatura infantil incansavelmente lidos e depois se confrontando com a realidade que eu suponho ter noção, e que jogo na cara de quem se atreve a abrir um livro de minha autoria.
Seria crueldade deliberada, ou seria um excelente aviso? – Não, não vou questionar-me sobre isso, simplesmente jamais voltarei a ler-me assim, pois falar de mim é tema restrito entre mim e minha alma. Sou reserva, sou mistério, sou você, sou eu.


Madame Bleue.

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