quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Preguiça de Catalina - Part III - O FIM, por Thiago Almeida.

Obs.: Galera esse post é o fim da história, ela começa na parte I "ô, não me diga" mas bom, só avisando. Bjs.
PARTE III - FIM



Acordou no outro dia, com os tamancos de sua mãe batendo sobre o velho piso de madeira do hall que dava pra escada de sua casa, em seguida o despertador tocou, era hora de levantar, uma preguiça avassaladora dominou Catalina, mais uma vez e venceu, ela adormeceu.

Por volta de uma da tarde, Catalina desceu as escadas e deu de cara com sua mãe que ainda parecia estar muito irritada, a mãe estranhou a presença da filha, pois achou que a mesma tivesse ido ao trabalho.

- Catalina Ivana, o que você está fazendo em casa? - perguntou sua mãe, dona Constanta que estava sovando no balcão de mármore da cozinha uma espécie de pão.

- Não fui trabalhar, e não, eu não estou preocupada mamãe - respondeu severamente Catalina.

- Sinceramente eu não sei o que você pensa da sua vida minha filha, termina um noivado, não quer trabalhar, nunca quis estudar, não tem amigos, não sai de casa nos dias de folga, tudo pra você se resume a dormir ou ficar em seu quarto, Catalina você não é invalida, você está viva e ainda é muito jovem pra esse tipo de comportamento - falou em tom de sermão dona Constanta.

- Mãe, com todo respeito, eu estou cansada, então vou subir e dormir - disse Catalina

- CANSADA? você dormiu até essa hora, não faz nenhum serviço doméstico, nem seu quarto você arruma!

- Você bem sabe, seu pai e eu vamos voltar para Romênia, daqui dois meses, está tudo pronto e você diz que não quer ir - Disse Dona Constanta ... Ela e o Sr. Ivan iriam voltar para Romênia, para viver uma vida simples no campo como planejaram, mas estavam preocupados com o destino incerto de Catalina.

- Sim, eu sei, mas eu ficarei por aqui, respondeu Catalina - que subiu as escadas, deitou em seu quarto, acendeu alguns cigarros, o cheiro de nicotina lhe incomodou, mas ela deixou a preguiça novamente lhe dominar e não abriu as janelas, continuou fumando até adormecer... e teve um sonho, daqueles que parecem filmes e nele ela se via em diversas situações, como as suas faltas na escola, os "bolos" que dava em seus namorados, amigos, parentes, a sua vida dentro daquele quarto, "encafifada" como dizia sua mãe, essas cenas de omissão àvida eram embaladas ao som de “Piece of my Heart” ... de repente Catalina desperta, e enxerga somente fumaça a sua volta, era difícil respirar, algo parecia estar queimando, era muita fumaça, e naquele momento, de repente um sujeito esquisito, baixinho, sentado, com orelhas pontiagudas apareceu e sorri para ela. Entorpecida pela fumaça e pelo o desânimo, perguntou bem baixinho:
Ilustração de Belphegor do Dictionnaire Infernal

- O que é você?

- Sou Belfegor, um velho amigo seu.

Catalina, não reconheceu esse nome de imediato, mas logo seus neurônios responderam e ela assimilou:

- Mas não é possível, Belfegor que conheço é um demônio, tido como o demônio da preguiça...

- Isso mesmo, adoro quando sou reconhecido - respondeu com sua voz aguda e ofegante, em um tom irônico.

- Fala sério, mas você existe? Estou louca? estou sonhando?

- Não Catalina, você está morta de preguiça - deu uma risadinha irônica e prosseguiu - No sentido literal - e riu novamente.

- Vou lhe contar, te acompanho desde os 13 anos de idade, e agora vim buscá-la para viver comigo em meu reino, serás minha nova escravinha, acho que usarei sua barriga para descansar meus pés cansados - falou o demônio - Lembra aquele suposto pacto que você achou ter feito no cemitério com suas amigas? Pois bem queridinha você realmente o fez, eu aceitei de bom grado, você e aquelas pentelhas.

- Mas não pode ser, e essa fumaça? - a fala de Catalina foi interrompida por uma tosse brusca.

- Essa fumaça foi à causa da sua morte, o cigarro caiu e queimou tudo, você não está enxergando?

- E dizem que o diabo ainda é ruim, olha só, a primeira coisa que queimou nesse muquifo foi seu guarda roupa de péssimo gosto, por sinal, que seu pai, o velho reclamão vivia ameaçando queimar.

- Não fala assim do meu pai, seu idiota - Catalina revidou as palavras da criatura.

- Pai? - riu o diabo - Seu pai agora sou eu, e vamos logo que ainda tenho que buscar mais criaturas desprezíveis como você ...ah, e história sobre ser minha escrava, é brincadeirinha, isso é mais de uma das mentiras da igreja.

O diabo agarrou o braço robusto de Catalina e sumiu no ar, feito mágica.

Chegando ao inferno, passaram primeiro no Ministério dos Pecados, para registrarem Catalina.

- Ministério dos Pecados? - Catalina riu - Essa é boa!

Olhou em sua volta, e viu em uma imensa placa: Departamento dos pecados capitais, 666° andar.

- Vamos - falou Belfegor - Temos que tirar seu RGI.

- RGI? - O que é isso? - Perguntou Catalina

- Registro Geral do Inferno, né? Dúúr - Debochou o diabo.

Chegando ao andar, Catalina entrou na fila e viu logo em sua frente, políticos conhecidos, pastores de igrejas, e murmurou consigo mesmo “Meu deus, eu tô louca”.

De repente ouviu-se um sinal, uma sirene, como as usadas em carros de polícia, todos ficaram alvoroçados, incluindo Belfegor e logo entraram pela saída de emergência dois homens, com pequenos chifres, calças de couro, coturnos desgastados e cabelos enormes, lembrando os roqueiros que Catalina costumava se interessar. Foram em direção da moça e abordaram-lhe:

- A senhorita disse a palavra proibida no inferno, e será multada a ouvir 999 vezes... deixe-me ver, você é do Brasil, então o pior castigo para você, de acordo com o guia rápido dos agentes do inferno é, ouvir o cd completo do Padre Marcelino Rossi, e ficará sem poder beber, fumar e sem pecar durante um dia inteiro ouviu? - Falaram um dos agentes, em um tom não muito certo do que estavam falando.

- Mil perdoes, ela é novata no inferno e ainda não sabe as regras - Interrompeu Belfegor

- É sua obrigação, ter passado a ela, no momento que a recolheu - Argumentou um deles.

De repente Catalina, envolvida num estado de êxtase e choque pergunta a um dos agentes:

- Meu De... Digo Meu diabo, você por acaso era o vocalista da banda Demônio Revolucionário?

- Sim, por que o espanto? Sou o “Podrêra” e esse aqui ao meu lado é o “Pagão” o baixista da banda - respondeu o semi-demônio.

- MAS O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO AQUI? VOCÊS MORRERAM, TEM UNS TRÊS ANOS!

- Sim, e você também morreu, esqueceu? - rebateu Belfegor - Minha querida, pode acostumar-seaqui no inferno você encontrará muita gente conhecida, você verá que não é um tédio como o céu, aliás, muitos não suportam viver naquela chatice e pedem transferência externa pra cá.

- Eu sou fã deles, Be..l...fagar...

- BELFEGOR, B-E-L-F-E-G-O-R - por favor, é uma afronta errar o nome de um demônio tão importante como eu.

- Então, deixaremos passar dessa vez, mas tome mais cuidado.

- Pppprazeer. – tentou dizer Catalina

- Prazer? aqui a gente tem muito disso garotinha, estamos indo, até uma próxima....



Catalina pensou que estava no paraíso, um lugar aonde ser preguiçosa não era pecado, onde o hino nacional era cantado por uma banda de “Heavy Metal”, onde vodka brotava nas fontes, ali era o lugar que ela sempresonhou. Não precisaria trabalhar, não precisava se preocupar com nada, somente em ser ela mesma.



666 dias depois....

Catalina mudou-se para cidade do rock, um condomínio nobre no inferno, vive feliz com seus vizinhos celebres, outro dia desses, ela e Janis se encontraram e andaram peladas no bosque libertino.

E senhor Ivan e a Dona Constanta, continuam rezando pela alma de sua filha, porém sem muito êxito, voltaram para Romênia e estão felizes - Dona Constanta às vezes fala - O senhor sabe o que faz, se ele a levou, ele tinha um lugar melhor para ela.

Mal sabe Dona Constanta, mal sabe....






Thiago Almeida.


Um comentário:

  1. Amei o inferno!! Alias o historia toda é muito boa, me entreteu,me divertiu!!Beijos,Thi, Vc é o Máximo!!

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